A obra em prosa de Cervantes inscreve-se dentro de duas tendências da narrativa de ficção de sua época: o idealismo e o realismo. A vertente realista é representada por algumas das Novelas exemplares e por sua obra-prima, Dom Quixote.
Alguns fatos da biografia de Miguel de Cervantes e Saavedra (1547-1616) marcam de forma determinante a sua obra. Dois dos mais significativos são sua prisão em Argel e as dificuldades econômicas que sofreu ao longo da vida. Pouco se sabe de sua infância e juventude. Em Madri, foi discípulo de Juan López de Hoyos e aos 32 anos marchou em direção a Roma a serviço do cardeal Acquaviva. Mais tarde alistou-se como soldado e tomou parte na batalha de Lepanto, em que perdeu a mobilidade da mão esquerda.
Em sua viagem de retorno à Espanha foi aprisionado por piratas que o levaram a Argel, onde ficou cinco anos em cativeiro. De volta à Espanha, viu-se em difícil situação. Como sua atividade literária não lhe proporciona renda suficiente, trabalhou de cobrador e arrecadador de impostos e foi duas vezes preso por fraude e dívida. Sua vida melhorou a partir de 1600, quando se restabeleceu em Madri e começou a publicar seus livros.
A produção literária de Cervantes se desenvolve entre os séculos XVI e XVII, no momento da transição do Renascimento ao Barroco. O Barroco se caracteriza pelo momento da transição do Renascimento ao Barroco. O Barroco se caracteriza pelo surgimento do desengano e do pessimismo diante do idealismo humanista. A obra de Cervantes reflete a complexidade da mudança entre essas duas etapas. Esse fato, somado à importância e à peculiaridade de sua obra, justifica que ela seja tratada separadamente.
Prof. José Pereira da Silva