É indiscutível a contribuição da literatura italiana para a cultura ocidental. Até há pouco tempo, na Itália não se falava muito e se escrevia menos ainda o italiano: considerado os altíssimos percentuais de analfabetismo, constatamos que a língua italiana era desconhecida pela maioria da população da península. Desde as origens da língua, a situação italiana foi caracterizada pela distância entre língua escrita e língua falada, entre o italiano e os dialetos: somente após a unificação política (1860-1870) será possível uma real unificação lingüística, que se completará em torno da metade do século XX, graças à ação conjunta do estado, da escolarização de massa, da difusão dos mass media. Até então, em todas as partes da Itália, exceto Florença e arredores, falavam-se língua autônomas e locais, os dialetos.
Em suma, a literatura italiana é ligada a uma língua literária antiga e ilustre, mas escrita por poucos e falada por pouquíssimos, até o começo do século XX. Por séculos, cada escritor italiano foi obrigado a resolver, de alguma forma, a questão da língua. Em resposta a esta pergunta foi sempre condicionada à necessidade de adequação à tradição da literatura italiana, que tem seu centro em Florença no século XIV, com Dante, Petrarca e Boccacio.
Já antes de Dante, no século XIII, a tradição italiana conta com textos poéticos de grande valor em línguas vulgares (vernáculas), sobretudo em siciliano, umbro e toscano ( por exemplo, no campo da poesia religiosa, Francesco d’Assisi e Jacopone da Todi; entre os poetas do dolce stil novo, Guido Guinizzelli e Guido Cavalcanti).
Mas Dante Alighieri (1265-1321) é considerado o fundador da língua e da literatura italianas; e é muito significativo o fato de que o uso do italiano seja para ele o resultado de uma precoce avalição da situação lingüística e do desejo de favorecer a máxima difusão da sua obra: decide de usar a língua vulgar ( o italiano) – numa época em que, entre os doutos, a língua comum era o latim – porque o” latim beneficiaria poucos, enquanto o vulgar servirá realmente a muitos”.
A obra de Dante – sobretudo a Divina Comédia, que alcança fama imediata e imensa, entre o povo e os eruditos – constituem o primeiro modelo para a literatura italiana.
Prof. José Pereira da Silva