Nos anos 60, não houve quem não tivesse ouvido falar da literatura fantástica, ou mágica, latino-americana. O universo reinventado pelos escritores hispano-americanos chamou a atenção de críticos e leitores do mundo inteiro.
Foi a famosa fase do boom, com seus lados positivo e negativo. Vale lembrar que o lado negativo foi uma espécie de exagero que se criou em torno desses autores , alguns deles, de fato, surpreendentes, por causa do universo mágico que retratavam.
Era um mundo sempre movido fora das leis naturais. Mortos que falam e andam; cidades fantasmas; narrativas intertextuais e que se tornam enigmas para os leitores; etc.
Neste quadro, o lado positivo foi a afirmação de vozes muito próprias, cuja potência se pode ouvir até hoje em todos os quadrantes, como a de Cortázar, de Rulfo, de Garcia Márquez, de Octavio Paz, e tantos outros. Nessas obras, a preocupação com a realidade local se destaca fortemente, não só na criação literária, como também na crítica que muitos desses autores fizeram. Basta lembrar dos textos sempre impressionantes de Paz, como o seu Os filhos do barro. Porém, para alimentar suas obras, mas mundial, e o diálogo se amplia com o objetivo de extensão e não redução.
Paralelamente, outro movimento, que teve grande destaque, foi o da poesia neobarroca –que encontrou grande interlocução com a poesia brasileira, principalmente através da figura central, no Brasil, do poeta Haroldo e Campos. O grande nome desta tendência, e o mestre de todos, foi o cubano Lezama Lima, com suas imagens inesperadas, buscadas no fundo dos baús literários para tratar, muitas vezes, de um mundo particular esgotado, evaporando-se. Suas imagens dão concretude a uma memória que se faz e refaz discretamente.
Já a nova literatura, a que começa a ser produzida a partir doa anos 80, será marcada por uma revisão desse realismo fantástico, buscando muito mais o esgotamento dos projetos utópicos e uma sempre intensiva releitura desta tradição. O empobrecimento , a revisão do passado autoritário recente e o exílio voluntário serão temas constantes. O mundo latino-americano, com sua complexidade, aparece na obra de autores incríveis como o chileno Roberto Bolaño e o argentino Ricardo Piglia.
Prof. José Pereira da Silva