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segunda-feira 23 dezembro 2024
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Literatura em gotas – Lírica galego-portuguesa

A poesia provençal teve uma escola brilhante que influenciou diretamente a poesia galega, entrando na península Ibérica através do caminho de Santiago, na Espanha. Essa lírica de influência provençal se difundiu não só na região da Galícia, mas também em Portugal. Formaram-se então os cancioneiros galego-portugueses compilados no século XIII.
A forma poética da lírica galego-portuguesa é a cantiga, que era destinada ao canto. Conservam-se ao redor de 1600 divididas fundamentalmente em cancioneiros (coleções de poemas), como o Cancioneiro da ajuda, composto no último terço do século XIII, na corte portuguesa do rei Dom Diniz. As cantigas datam de um período que abarca desde o ano 1200 até 1350 e se dividem em quatro gêneros:
– A cantiga de amor, herdeira direta do canto provençal. Expressa o amor de um homem por sua dama (senhor), ou a dor que ele sente pelo desdém dela. São poemas convencionais e frios.
– A cantiga de amigo está vinculada a tradições populares. Como nos cantos moçárabes, gênero com o qual tem várias semelhanças, a voz poética é a de uma donzela (amiga) que chora a ausência de seu amado e pergunta por ele aos elementos da natureza. É uma poesia de corte sensível e sincera.
– As cantigas de escárnio e maldizer são burlescas. As de escárnio convidam ao riso, ao passo que as de maldizer querem apenas atacar suas vítimas (trovadores, pessoas importantes, cavaleiros etc). Ambas representam o contraponto da lírica cortês (cantigas de amor), ainda que formalmente se apóiem nos mesmos princípios.
A lírica galego-portuguesa influenciou muito a lírica castelhana, tendo os poetas de Castela até mesmo adotado o galego como língua culta para compor seus poemas. Alfonso X, o Sábio, compôs em galego suas Cantigas de Santa Maria, obra que tem a particularidade de ser o único poema sobre a virgem que se conhece na literatura galego-portuguesa e a única mostra da narração versificada, traços que separam essa obra trovadoresca da poesia profana.

Prof. José Pereira da Silva