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quinta-feira 14 novembro 2024
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Literatura em gotas – Fernando Pessoa

Fernando Pessoa nasceu no dia 13 de junho de 1888, em Lisboa. Quando se fala em Fernando Pessoa comete-se, nunca é demais lembrar, uma impropriedade: trata-se não de um mas de vários autores; portanto, o que está em causa são várias obras e não apenas uma. Isso porque, como é largamente sabido, o grande trunfo do escritor lusitano oi criar, sob o disfarce de diferentes personas, os seus formidáveis heterônimos – numa estratégia literária que já chamamos, em outras oportunidades, de estética do fingimento.

Essa disposição para “se outrar” surgiu ainda na infância: aos seis anos de idade. Pessoa deu vida ao precursor dos heterônimos, um certo Chevalier de Pas, em nome de quem escrevia cartas para si próprio.

Pelo menos 72 heterônimos foram criados pelo poeta para dar vazão a sentimentos que o habitavam, porém nunca teve, por mais paradoxal que possa parecer tal afirmação. Se os houvesse tido, bastaria escrever sob pseudônimo. Entretanto, é cristalino que o fenômeno da heteronímia não escondia a criação poética do Fernando Pessoa- ele mesmo por trás de falsas identidades, como no caso de outros autores.

Em 1914 surgem Alberto Caieiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis. Em 1915 sai o primeiro número de Orpheu. Em 1918 lança os seus English Poems I,II e III. Em 1924 sai o primeiro número da revista Atena, dirigida por Pessoa e Ruy Vaz. Em 1927 sai a revista Presença, na qual Pessoa passa a colaborar. Em 1933, Pessoa enfrenta crise de neurastenia. Em 1934 é publicado A mensagem, seu único livro em português publicado em vida. Fernando Pessoa morre no dia 30 de novembro de 1935.

No ambicioso projeto concebido por Pessoa, cada autor-personagem – ou, no mínimo , os mais paradigmáticos – devia ser dotado não apenas de um estilo próprio como também de uma visão particular da literatura, de maneira a permitir que visse a público o próprio debate travado entre os integrantes da “coterie”, em busca da prevalência de suas respectivas posturas. Através de seus heterônimos, Fernando Pessoa mostrou seu vasto projeto artístico. Liderou o movimento modernista em Portugal.

Poucos autores levaram de modo tão radical a proposta de uma literatura voltada para a busca inexorável do real. A própria criação de autores-personagens, tendo em perspectiva uma discussão metalingüística. Diante do desafio lingüístico de promover o acesso do homem ao real, cada heterônimo-modelo de Fernando Pessoa responde de uma forma; suas respostas constituem, elas mesmas, a mais fascinante aventura poética da língua portuguesa – com raras realizações à sua altura em quaisquer outros idiomas, em qualquer época.

Prof. José Pereira da Silva