Na península Itálica, Giovanni Boccaccio (1313-1375) escreve uma coleção de contos intitulada O decamerão, primeira obra-prima da narrativa italiana , que, nos séculos seguintes, terá influência decisiva. É uma coleção de cem contos. A estrutura é simples: por causa da peste bubônica que arrasou a Europa em 1348,sete garotas e três jovens de Florença se refugiam durante dez dias ( daí o título: decameron significa dez dias em grego) em uma propriedade rural nos arredores e, para evitar o tédio, comprometerem-se a contar uma história por dia.
Os contos que formam o livro têm origens diversas. Os temas também são variados: alguns narram histórias que acontecem em lugares exóticos, outros – a maioria – são de ambientação realista na sociedade da época.
O tom varia: há contos cômicos, trágicos, líricos ou eróticos. Os de maior valor e interesse são os de ambientação realista e enfoque humorístico: neles Boccacio expõe com elegância os vícios, debilidades e mesquinharias da época. Ao contrário da tradição, Boccaccio não tem intenção moralista.
Na Inglaterra, Geoffrey Chaucer (1340-1400) escreve outra compilação de retratos em verso intitulada Contos da Cantuária. Nessa obra se reconhece clara influência de Boccaccio, já que, como em O decamerão, há um fio argumentativo que une os contos: um grupo de pessoas representativas da Inglaterra da época – um cavaleiro,um estudante, uma monja, um fazendeiro rico, um frade, um mercador etc – peregrina junto de Londres ao Santuário de Tomás da Cantuária, e, para amenizar a viagem, conta histórias.
A procedência dos contos é, como em O decamerão, diferente: entre eles há exemplos de quase todas as tradições medievais. A obra, que ficou inacabada, intercala a narração dos contos com descrições dos peregrinos, assim como as conversas e disputas que eles mantêm entre si. É escrita em estilo ameno e brilhante, o que contribuiu muito para a fixação do inglês como língua literária.
Prof. José Pereira da Silva
