Matteo Maria Boiardo (1441-1494) parte de tradições épicas medievais para compor seu poema Orlando enamorado, tanto as de tema carolíngeo ( A canção de Rolando), guerreiro, como as de tema bretão ou arturiano, e as de tipo mais cortês e cavalheiresco. O poema consta de três livros, o último dos quais inconcluso por causa da morte de Boiardo. O protagonista do poema, Orlando (Rolando, cavaleiro da corte de Carlos Magno), não é um herói épico dedicado à guerra e para quem o amor é apenas um elemento a mais; com a estilização que Boiardo dedica ao tema de Rolando, o amor é uma forma de idealismo cortês, cavalaria e heroísmo. A beleza de sua amada Angélica atrai diversos cavaleiros, enquanto acontecem diversas peripécias, muitas de caráter fantástico.
Ludovico Ariosto(1474-1533), inspirado no poema de Boiardo, escreve seu Orlando furioso em 1516, continuando as aventuras do cavaleiro Orlando. O poema, formado por 46 cantos, em oitavas, apresenta a guerra do rei sarraceno Agramante contra Carlos Magno, mas não é na realidade o tema, e sim o ambiente cavalheiresco e cortês, que serve de fundo aos acontecimentos. A narração de Ariosto começa onde termina o Orlando enamorado, ou seja, nos Pirineus.
Também há nesse poema, apesar do tema medieval, uma enormidade de elementos clássicos. O Orlando furioso funde harmoniosamente o lirismo, a fantasia e o humor, com um estilo ágil e irônico.
Torquato Tasso (1544-1595) narra a história da primeira Cruzada, liderada por Godofredo de Bouillon, membro de uma ilustre família feudal francesa, que chegou a conquistar Jerusalém em 1099. O poema se articula em torno dos esforços do Diabo para impedir a captura de Jerusalém por parte dos cristãos, ajudado por uma feiticeira famosa, Arminda.
Ainda que partam de fatos históricos e tenham intenção de veracidade, os episódios que o livro narra estão muito longe dos eventos da primeira Cruzada. Em termos gerais, existem semelhanças com a obra de Ariosto, mas com grande diferença: aparecem com força tanto elementos sobrenaturais cristãos como a própria doutrina cristã.
Além dos elementos cristãos, predominam os motivos comuns à épica culta renascentista: combates, provas de valor dos cavaleiros, seres fantásticos e episódios de amor romântico. A obra , concluída em 1575, foi tachada de pouco ortodoxa. Tasso chegou a escrever uma nova versão, a Jerusalém conquistada (1593), na qual eliminou alguns trechos e imprimiu o espírito da Contrarreforma.
Prof. José Pereira da Silva
