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sábado 23 novembro 2024
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Leitura de Taubaté – Uma visão caipira sobre Bolsonaro

O meu nome de batismo não interessa a ninguém. Nasci no sertão, nos pés da Mantiqueira, em noite de lua quase cheia. Trabalho com a terra produzindo vida; cuido dos animas que margeiam a respiração do horizonte; percebo o nascimento dos vegetais, pintando as cores que estampam a beleza da natureza. O meu pequeno mundo nasce na serra e percorre a distância demarcada por riachos e cachoeiras. Esse pedacinho de terra pertence a um país chamado Brasil, uma dimensão abençoada pelo canto dos sabiás, dos canários amarelos como ouro, da música composta pelos tangarás que pousam nos caules dos arvoredos.

No entanto, ao espalhar a sementeira pelo chão, sinto que a minha nação, cantada pelas cordas das violas, anda triste, abalada, assustada, pela incapacidade do nosso presidente, Senhor Jair Messias Bolsonaro.

A brisa que beija as flores espalhadas nas beiradas dos caminhos, de vez em quando, por descuido ou falta de louvação, pode trazer, também, a dor e a agonia. Uma dessas brisas, em noite sem calmaria, trouxe em sua bagagem um vírus de semblante alucinado, chamado Covid. Essa desgraceira, nascida em algum lugar do planeta, entrou no Brasil na condição de viajante descompromissado, ocultando o seu RG, escondendo o seu CPF, e os seus instintos mais misteriosos e enigmáticos. Andou pelas ruas desertas, acampou nas padarias sentindo o cheiro do pão, da manteiga, do café; encostou nos balcões das lojas, nos apertos dos ônibus e metros; vagou pelos corredores das grandes indústrias, não houve um espaço vivente que esse vírus deixou de visitar.

Nesse embalo apocalíptico, sem apresentar contemplação, matou jovens, velhos, mulheres, crianças e, como um bailarino descontrolado, assassinou milhares de pessoas.

Agindo sem o peso do coração, eliminou histórias de amor, estancou milhares de sonhos, destruiu ilusões projetadas nas curvas de um arco-íris; paralisou as mãos dos lavradores, dos operários, dos lutadores que buscavam um sorriso ao final dos dias e princípio das noites sem fim.

Muitos saíram de suas casas na sonolência das madrugadas, partiram dentro de um balão, alimentados pelas profecias individuais e desejos projetados nos anúncios de um novo futuro; de repente, no susto originado pela comoção, o caminhar foi congelado e, sem declaração oficial, não retornaram para suas casas, não concluíram as suas histórias.

Sou um homem simples, um caipira que vive na roça, mas consigo vivenciar a presença das lágrimas escorridas pelas faces e respingadas no chão. A tristeza que abalou a minha terra tem muitas expressões, porém, o abalo maior, dolorosamente gigantesco, encontra-se na incapacidade do presidente da república brasileira, esse cavaleiro sem armadura, mas coberto pela ignorância grudado em seu corpo, chamado Jair Bolsonaro.

Eu li, eu sei e gosto de ler as notícias que desfilam pelos becos desencantados desta nação. Ontem, segundo os jornais e revistas, um jornalista questionou o presidente sobre a quantidade de óbitos caudada pela Covid. O detentor do poder político do país, dominado pelo ódio, sua característica vinda do berço respondeu: “muitas vítimas tinham alguma comorbidade, então a Covid apenas encurtou a vida delas por alguns dias ou algumas semanas”.

Eu, com meu cheiro de campo, de terra removida, larguei a enxada, tirei o chapéu, enxuguei o suor da testa, e chorei como uma criança que ainda sabe chorar e, nos meus soluços, entre os apertos que rondavam o meu coração, pedi a Deus e a todas as vítimas da Covid, não permitam que esse homem, fantasiado de ser humano, Bolsonaro ou Messias, seja reeleito, mas que, em nome da paz, da decência passe a morar nos redutos de uma prisão. Amém, prece de um caipira que tenta falar com Deus.

Prof. Carlos Roberto Rodrigues