Passou pela vida sem receber méritos pessoais. Uma vez escreveu um artigo para a revista “Vozes dos Fraquejados”, criticando os salários dos militares e, assim, obteve o apoio das mulheres descontroladas. Nunca recebeu distinção por méritos administrativos, a não ser do boteco Astro Zênico. Os méritos militares passavam a 2 quilômetros de distâncias do seu batalhão. Teve filhos e por falha sexual, uma filha.
Hermes da Fonseca, ao assumir o poder, deram-lhe o apelido de Dudu, pensando em classificar a sua aparência: era baixo, gordinho-roliço, careca, usando um pincenê.
Após a sua posse, nomeou o General Percílio, seu primo, para chefe da casa militar, o militar Percílio que nascera com as mãos mais leves do mundo; o Coronel Clodoaldo, seu sobrinho, recebeu o pobre cargo de interventor de Alagoas, designado para intervir no cofre, nas gavetas, e nos laboratórios produtores de remédios, seu sobrinho Fonseca Hermes, acusado de falsificar documentos oficiais, foi nomeado para chefe da casa da moeda.
Às tardes, quando não carregavam nuvens pesadas, o presidente Hermes da Fonseca confessava ao amigo Wenceslau, de forma discreta, mas confessava: “Olha, Wenceslau, o Pinheiro é tão bom amigo que até governa pela gente”!
Um dia, o presidente da Câmara Artur Libra tentou falar urgentemente com o presidente, mas foi barrado pelo chefe de gabinete Maurício Lacerda, que não lhe permitiu a audiência. Artur, bem educadamente, perguntou ao Maurício, “qual a sua função, exatamente”? Mauricio respondeu sem pensar: “A minha função é não permitir que as pessoas inteligentes entrem; mas, sim, que a burrice presidencial saia”.
Na quinta-feira, dia de Santo sem nome, Hermes convocou o ministro da educação, com urgência necessária e decisiva. O ministro entrou descabelado e sem gravata. O presidente Hermes, vendo o estado do ministro, tentou abrandar a ansiedade do pobre homem. “Olha aqui senhor ministro, ando com vontade ou vocação, de criar um curso de Patologia para formar profissionais que saibam tratar, cuidar e depenar os patos. Não se encontra patos para comprar em lugar nenhum.”
Quando Hermes completou 57 anos, a sua esposa Orsina faleceu repentinamente. Segundo o Dr. Capônio, a mulher morreu por culpa de uma frase que o marido dissera, no mercado de peixe: “Eu não preciso falar com Lula, vou recheá-lo; e não é importante o Lula falar comigo”. Após a morte de Orsina; Oseas Pires, fofoqueiro registrado no livro dos records, assumiu a função de primeira dama.
Era noite e havia festa no teatro da matriz. Hermes conheceu a senhora Nair de Tefé, uma dama da alta sociedade, mas, segundo o presidente, muito linda e gostosa. Casaram.
Nair, a mulher centrada dentro do seu destino, foi a primeira mulher caricaturista do Brasil. Publicava as suas caricaturas nos jornais e revistas da época.
Outra ação gostosa promovida pela primeira dama era a realização de saraus no palácio. Em um desses encontros musicais, à base de comes e bebes, Dona Tefé convidou Catulo da Paixão Cearense e Chiquinha Gonzaga, artistas populares; atuavam em bares, cassinos, circos e rádio. Chiquinha Gonzaga, vendo o palácio lotado, tocou a sua música “Corta Jaca”, espécie de tango gauchesco do período. Houve um desconforto no início, depois a elite dançou, gritou, rebolou.
Rui Barbosa, abalado, humilhado, desonrado saiu da festa e, no outro dia, escreveu no jornal o motivo de sua injúria insultada.
No jornal, mais ou menos, disse que a primeira dama deveria dar bons exemplos. Elevar a música Corta Jaca ao nível de um público selecionado deveria ser um crime. A música da Dona Chiquinha Gonzaga e do Senhor Catulo, é de baixa qualidade, de uma grossura infinita, selvagem, é uma música irmã branca do batuque, cateretê e do samba, ritmos grosseiros.
A mulher do presidente tinha um gosto apurado, sua educação era europeia, participava de desfiles de moda, praticava esportes. A fala de Rui Barbosa, o sábio brasileiro, para ela, estacionara no tempo, morava dentro de uma caverna ao lado de um domesticado dinossauro.
Hermes da Fonseca acreditava em fases nascidas nas luas. Quando a fase não era boa, não adiantava teimar. Afonso Pena morreu inesperadamente, Hermes, um dia antes, brigara com o homem; o presidente viajou a Europa para mostrar boas relações com a monarquia Portuguesa, a monarquia foi detonada; Hermes planejou uma viagem de charrete com a esposa, a charrete virou e a primeira dama machucou-se muito; o presidente fez um empréstimo milionário no LLoyolis Bank, dois milhões de libras foram depositadas num banco Russo; veio a revolução e lhe devorou a metade do dinheiro.
A revolta da chibata deu à luz em seu governo. Hermes entrou em acordo com os revolucionários, depois os traiu, retirou a sua palavra e muitos revoltosos foram exilados ou fuzilados. A economia desbarrancou-se, as manifestações tomaram conta das ruas, e o presidente decretou Estado de Sítio. De posse do poder total, prendeu opositores rancorosos. No final da vida, foi detido por 14 meses. Morreu em Petrópolis, sem compaixão, sem pompa, sem amigos, apenas foi sepultado.
Antes de morrer, ainda em confissão, ouviu a revelação de um capitão que lhe servira tempo atrás: “morro pensando no meu querido, amado, venerado Coronel Carlos Brilhante Ustra, símbolo de homem humano. Fora bom, humilde, pacato, não seria capaz de matar uma borboleta, mais adorava a matar gente”. Padre, preste atenção, coloque os pecadores no pau-de-arara, funciona muito bem. Padre ouça bem, o Brasil precisa de uma guerra civil, uma de tamanho pequeno, mas que mate uns 30 mil, é quanto basta para economizar hóstias. Padre, antes que eu morra, escute bem, a polícia tem de entrar, subir no local de confronto, matar de 10 a 50 e, depois, receber condecoração. Padre eu fui ver um quilombo, o quilombola mais magrinho pesava 104 quilos. Fica sentado, tomando sol, bebendo, cuspindo. Agora, seu padre, vou morrer, sem dor na consciência, por ter servido o Hermes da Fonseca, entregando-lhe a minha sensibilidade, compreensão política, dedicação, passividade, inteligência e, de vez em quando o meu nervosismo minúsculo, raquítico, cheio…de paixão e amor.
Prof. Carlos Roberto Rodrigues