O indiozinho, da tribo de Oni, viu a suaçuarana dobrando o corpo de dor. A onça parda ou leão baio, rolava de um lado para outro, chorando baixinho. De repente, num estalo, cravou a suas unhas numa árvore chamada chinchona, arrancando-lhe um bom pedaço da casca que cobria o tronco, mastigou-o, fazendo caretas homéricas. Nesta casca grosseira havia quinina, uma substância química banhada pela fé da América do Sul.
A onça parda sentiu o efeito da substância em pouco tempo. Levantou-se. Passou a língua pelo gramado, a sua dor havia saído de seu corpo e viajado para outras terras. A suaçuarana deu um pinote e partiu para o coração da mata, pensando na caça sagrada, seu alimento de toda noite.
O índio pequenino contou o acontecido ao pajé. O feiticeiro tribal, índio experiente e vivido no mundo das curas, explicou-lhe: -“A casca dessa árvore tem quinina, um elemento espiritual que cura a malária e todas as nossas doenças. Com a chegada dos gigantes de botas, homens rudes, barbudos, cabeludos, fedidos, chamados espanhóis, a nossa quinina foi parar num mundo muito grande conhecido como Europa. Na Europa, homens sábios, barbudos e cabeludos, menos fedidos que os espanhóis conquistadores, estudaram a quinina aplicando-a no tratamento da malária, das febres, doenças do fígado, do reumatismo, da depressão. “
Esses mesmos sábios, por volta de 1820 descobriram-lhe o princípio ativo. Houve brigas, desafetos, conflitos, arrogância, em torno da simples quinina. Passado um tempinho, criaram a tal de cloroquina, um trabalho de cientistas funcionários da Bayer. De tudo isso ficou apenas um rastro insignificante das atitudes da onça peruana.
O cientista que criou a cloroquina apropriou-se do prefixo cloro, que significa, no mundo das transparências, alguma coisa verde, ou seja, segundo os gregos uma substância esverdeada. Usando toda a sua inteligência, brilhante por sinal, somou ao prefixo cloro a substância quina, a casca da árvore da história do indiozinho. Dessa soma, de palavras surgiu o vocábulo cloroquina.
A cloroquina foi objeto de pesquisa, estudos, aplicações, posologia durante a Primeira Guerra Mundial. Os soldados morriam nos campos de combate, nas ruas, acordados ou dormindo, por uma infecção desconhecida e monstruosa.
A cloroquina passou a ser engolida como água. O cloro e a quina eram esperança, profecia, segurança, limite entre a vida e a morte.
Na Segunda Guerra Mundial, entre o desespero e o desequilíbrio humanos, os nazistas investiram milhões de dólares em estudos sobre os efeitos da cloroquina; os americanos, do lado de lá, despejaram potes de ouro, roubados dos duendes dorminhocos, na possibilidade dos efeitos da cloroquina. Os nazistas não chegaram a lugar algum. Hitler se tratava com alho mastigado lentamente. Os americanos também ficaram no meio do caminho, mas divulgaram, na mídia da época, descobertas mágicas e fantásticas sobre a cloroquina.
Hoje, estamos vivendo a pandemia causada pelo Covid-19. O mundo, como já é do nosso conhecimento, jamais será o mesmo. Haverá mudanças radicais nos projetos educacionais, na economia, na moda, na política, na agricultura, no processo industrial, na reorganização dos setores funcionais, na segurança, na saúde, no namoro, no noivado e casamento.
Mesmo diante do painel desenhado pelo corona vírus há dois presidentes que acreditam que a cloroquina é milagrosa: Donald John Trump e Bolsonaro. A revista The Lancet, estudou 96 mil pacientes com Covid-19. A pesquisa foi profunda, os casos foram elencados, isolados segundo o grau e evolução da doença. O resultado foi matéria em outras tantas revistas científicas do mundo: ”A cloroquina é ineficaz contra o vírus Covid-19. Há, por outro lado o aumento do risco de morte por arritmia cardíaca, alterações visuais, zumbido nos ouvidos, distúrbios gastro.
Trump e Bolsonaro trabalhando no laboratório “Fundo do quintal-9” descobriam que a cloroquina cura malária, doenças hepáticas, artrite, porfiria, e os males causados pelo coronavírus, além de corrigir a visão dos políticos mal intencionados.
Prof. Carlos Roberto Rodrigues