Ademar de Barros nasceu durante a noite, todo processo do nascimento ocorreu no escuro. Não há documentação confirmando que a sua entrada no mundo ocorreu sobre uma cama, um colchão, ou na raiz de um pé de café.
Aprendeu, na juventude a pilotar, mas não praticou nenhum voo que entrasse para a história. Na medicina, fez uma profunda pesquisa sobre a Cloroquina, chegando a uma conclusão científica avassaladora: não cura gripe, não cura gripezinha, mas ainda não há comprovação laboratorial, é venerada por todos os neuróticos e tetrapersonalidades.
Como empresário, ferveu muito leite, castanha de cacau, usou toneladas de açúcar criando um chocolate saboroso chamado Lacta, palavra que vem do latim, expressando “alguma coisa leitosa”, erótica, alucinatória, de gosto inconfundível, preferencia dos deuses do Olimpo.
Ademar foi prefeito de São Paulo, governador do Estado de São Paulo por duas legislaturas, candidato à presidência em infinitas possibilidades, sendo sempre derrotado; foi também interventor do Estado de São Paulo nomeado e exonerado por Getúlio Vargas.
Em seu escritório, acreditando no depoimento de seus amigos, tinha um caldeirão, sobre toras de lenha, cheio de água do rio São Francisco. Esse caldeirão, quando efervescente, evaporava ideias de centenas e centenas de obras necessárias ao país. Nenhum político, nascido em qualquer território do mundo, fez mais obras do que o político Ademar de Barros.
Havia um caldeirãozinho, no mesmo escritório, feito de ferro fundido, nas cavernas da bruxa Rebeca Nurse, que temperava desvios, corrupção, propina, ajuda para campanha.
Acreditamos, também, que Ademar fosse uma espécie de profeta histórico. Houve uma infinidade de profetas no mundo; esses profetas falaram, pregaram, escreveram, comeram, beberam, se vestiram. No outro ponto deste processo, não sabemos se amaram uma mulher, se transaram, se mantiveram uma paixão carnal, se riram, se brincaram com peão ou bolinha de gude.
Sabemos, com certeza, que se aproximaram de muitas verdades e, diante do que falaram, deixaram um rico manual para o ensino de interpretação de textos.
Ademar, um caso a ser verificado, na campanha presidencial contra Jânio Quadros, o homem da vassoura, que limparia o país, pronunciou umas palavras seríssimas e loteadas por pensamentos proféticos. Essas frases foram ditas em 1961, essa data é importante se considerarmos a revelação do futuro. Naquela época, Ademar pronunciou o seguinte pensamento: “Nós estamos numa campanha presidencial; não estamos nos preparando para uma guerra; nesse caso, não precisamos de espadas, de granadas, de cloroquina; agora se vamos construir uma ditadura, precisamos de ódio, loucura, olhar paranoico, vingança, perseguições…” Ademar, através de um anjo, mesmo torto, previra a ditadura de 64.
Atuando como homem, um ser dotado de corpo, alma, sexo; Ademar apaixonou-se por Ana Guimol Benchimol, mulher bonita, gostosa, adorava Wagner, Mozart, Lizt, Verdi, Manuel Bandeira, Fernando Pessoa, Graciliano Ramos, cantigas de roda, jogo de amarelinhas e na cama, buscava as palavras possuidoras de mais de cem graus de erotismo, de loucura, de desordenação caótica, de abismos entrados na boca dos que morreram de tesão.
Ademar, fixado nas páginas dos jornais, deixara vazar uma notícia tentadora; melhor dizendo, ele possuía um cofre onde depositara o produto dos seus desvios econômicos, adquiridos com letras de suor, durante as suas gestões.
Esse cofre, por segurança, guardara-se na mansão de sua amante, no magnífico bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro.
Na ditadura militar, no período da repressão, existia um grupo de guerrilheiros bem treinados, denominados VAR-Palmares, organizados por homens e mulheres possuidoras de cérebros ativos, patrióticos, grupo do qual participava a jovem Dilma Rousseff.
A falta de financiamento econômico que circundara o grupo, o levou a planejar o assalto à mansão da amante de Ademar, em busca do lírico e apaixonado cofre.
O plano nasceu, andou por noites aceleradas, enfrentou dias de sol, de praia, de sorvetes de casquinha, de vontade danada de agir. O plano, em sua maior parte gerou-se na cabeça da jovem Dilma.
Uma noite, sem motivos aparentes, Santa Teresa dormira antes do domínio lunar. Treze guerrilheiros saltaram o muro, entraram na casa, amarraram os despertados e roubaram o cofre com quase 3 milhões de dólares. Cada nota tinha o nome de um brasileiro, de quem o dinheiro fora roubado.
Pagaram dívidas.
Comeram bife numa pensão qualquer.
Financiaram novas missões.
Compraram armas para o Capitão Carlos Lamarca.
O dinheiro de Ademar cheirava a corrupção; e também um odor mais suave, mais inebriante, aproximava-se de corpos explodindo de amor. Por esses motivos, na opinião da Cuca, os confrontantes elevaram aos céus, um gemido inexplicado, misturado com guerrilha, música de Caetano, Gil, cerveja, guaraná e vitamina de testosterona.
Castelo Branco, grande general, cassou Ademar de Barros por corrupção. Ademar, estudado ao lado de milhares de políticos brasileiros, foi o homem público que mais recebeu honrarias, medalhas, títulos e comendas.
O Anjo de Asa Torta, uma criação de Lobato, disse: “que o espírito de Castelo Branco anda curvado, meio perdido, carregando as homenagens de Ademar”.
Prof. Carlos Roberto Rodrigues