O elefante Santir era único em sua espécie. A elegância caminhava na dianteira de sua personalidade. Ele vivia em uma manada formada por vinte elementos. Ao lado de sua amada Tarea, andava longas distâncias em busca dos 125 quilos de folhagem que cada membro de sua família comia por dia. Outra tarefa desgastante consistia em localizar riachos, fontes, rios, cachoeiras. Um elefante para sobreviver, mantendo sua saúde e força espalhada pelo destino, precisa beber 200 litros de água, entre os seus dias e as suas noites.
O amor à sua vida, porém, parecia uma profecia divina escrita nas paredes dos grandes rochedos. À noite, ao lado de Tarea, os pensamentos voavam na direção da lua, dos astros, dos espaços vazios na imensidão celeste. Santir adorava esfregar o seu corpo ao corpo de Tarea, senti-la na precisão temporal, respirar o seu cheiro, ver a beleza que cobria a sua imagem. Ultimamente, marchando sobre os roteiros que os conduziam à floresta do Vale dos Magos, os dois pensavam em ter um filho, os dois sonhavam com a possibilidade de multiplicar o amor que morava dentro de cada um, um amor lúcido, transparente, sereno. O único problema existente era o tempo de gestação, por volta de 22 meses, e o clima do momento continuava confuso, amedrontador. A seca castigava o chão, os arvoredos, os rios; havia aves mortas e as carcaças permaneciam nos lugares marcados pelo fim.
As nuvens resolveram aproximar-se das savanas, nuvens escuras carregadas de água, raios e trovões. O vento, em respeito a si e aos outros, estancou seus passos.
A vida desceu dos céus, a chuva derramou o seu choro.
Durante o temporal, os elefantes não procuraram entender, mas o infinito foi pintado por cores avermelhadas, fundidas a outras dezenas de cores, e o mistério que habita as savanas foi revelado. Santir, o coração batendo na ponta das presas de marfim, amou Tarea como quem, através do amor, aproxima-se da morte.
A chuva diminuiu a intensidade, o céu costurou estrelas na amplitude do universo. O casal de elefantes juntou as trombas por longos minutos e a existência retornou a normalidade. Tarea, controlando a emoção do coração disparado, falou: “Se estiver grávida, quero uma filha como a elefantinha Ruby, amiga do gorila Ivan que tentava entender os sentimentos humanos. Eu adorei o livro “O grande Ivan” da escritora Katherine Applegate”.
Sandir, acompanhando o romantismo de Tarea disse: “eu gostaria que fosse elefantinho. Um elefantinho bom, corajoso, como o Tantor, que liberta os animais que estão presos no navio do bandido Glayton, no livro “Tarzan e os macacos”, de Edgar Rice Burroughs”.
Tarea, suspirando por dentro de sua alma disse: “se fosse elefantinho, gostaria que fosse chamado de Basílio Lustroso, um descendente dos elefantes que viajaram com Noé, segundo o escritor Erico Verissimo. Basílio é muito fofo!”
Sandir, balançando a cabeça, de ambos os lados disse: “sou gamado no elefante Hathi, criado por Rudyard Kipling, no livro denominado “O Livro da Selva”. Ele age como um profeta, conhecedor das leis da selva, a história da origem das florestas, suas lendas, suas verdades e superstições”.
Tarea, diante da beleza realmente exagerada da natureza, soltou várias lágrimas e acariciando Sandir disse: “se for elefantinho será Jumbo, o elefantinho que foi capturado na Etiópia. Ele foi preso por aventureiros, traficantes de animais. Dizem que sua mãe tentou defendê-lo durante a ação de sua prisão, mas foi barbaramente banida. Jumbo chorou durante a travessia do oceano; chegou a capital francesa magro, triste e deprimido. De Paris, espremido no vagão de um trem, viajou até o zoológico de Londres; chegou muito doente, mas o tratamento especial recebido de um homem chamado Mathew Scott, o recuperou. O mundo soube e reconheceu, pela primeira vez, ternura e atenção entre um humano e um elefante. Jumbo, presenteado por um milagre da natureza cresceu, cresceu, cresceu… ficou enorme, tornando-se a glória do zoológico de Londres. No outono de um ano bissexto, Jumbo foi vendido para um circo em New York, foi recebido com festa; desfilou pela ponte do Brooklyn. O elefante da Etiópia realizou grandes espetáculos no circo, tornou-se uma estrela do mundo do entretenimento. Na tarde de uma quinta-feira o circo foi desmontado para seguir viajem. Um trem desgovernado surgiu na estação, indo na direção de um bebê elefante; Jumbo adiantou-se na direção do trem; salvou o bebê entregando a sua vida ao deus Eleplas-antos, o deus marfim”.
A chuva havia partido para outras regiões; a vegetação cresceu seguindo o dom da magia; a manada continuou a sua jornada, seguindo as margens do grande rio; de trombas dadas, Tarea e Sandir sonhavam, ela plenamente grávida; ele, caminhando lentamente, imaginando o filho cativando plateias… cidades, mundos, florestas…
Prof. Carlos Roberto Rodrigues