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quinta-feira 21 novembro 2024
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Leitura de Taubaté – O cinema em Taubaté

Ela era muito bonita, costureira e bordadeira como nunca se vira pelas terras de Taubaté; doceira de cultura com cheiro de tradição; sabia ler e mexer com os números. Nunca tivera um namoro firme apenas flertes e algumas palavras pronunciadas para dentro do corpo. Seu nome era Mariana da Luz. O pai, Josefino da Luz, vigiava até os olhares sombrios de Mariana.

Catarino Amadeu, caixeiro do armazém do turco Maomed, apaixonara-se por Mariana, paixão nascida dos olhares silenciosos roubados do seu tempo de janela, outros olhares nasciam da sua contemplação quando Mariana ia à padaria do Acácio das Vinhas. Nesses momentos devorava-a com os olhos e a alma, mas sempre com medo. Na procissão de São Benedito, tentaram falar por duas vezes, mas foram interceptados por Josefino da Luz, pai atento e com espuma no canto da boca; Josefino odiava o caixeiro Catarino.

Por essa época, chegara em Taubaté, pela boca do Teodoro do Cartório um acontecimento que tocara o coração de São Paulo. Acontecimento este ocorrido na noite de 6 de agosto de 1907. O fato ocorrera às 8 hs da noite no teatro Santana. O público Paulista fora preparado para assistir ao fenômeno do momento, a criação do tal de Cinema, uma revolução no processo artístico da linguagem, ou seja, a fusão dos acontecimentos da vida ligado aos movimentos das imagens. Havia no palco do teatro Santana uma tela branca, muitos fios, uma máquina de projeção e um pequeno conjunto musical junto aos pés do palco.

O diretor do evento e proprietário da máquina, Francisco Serrador, subiu ao palco para anunciar o principio do cinema em São Paulo. O clima, o cheiro do ambiente, tudo era emoção e preparação para o início de uma noite espantosa. O público paulistano assistira, naquela noite, a várias comédias curtíssimas, alguns shorts, pequenos dramas urbanos, um musical acompanhado pelo conjunto postado ao pé do palco. Ao termino do espetáculo alguém chorou, outros se assustaram, um pequeno grupo impactou-se.

Em Taubaté, muitas vezes em sua história, os acontecimentos nacionais passaram por essas terras dos índios Guaianases antes de colocarem os pés no país, assim, na noite de 02 de janeiro de 1898, numa sala de um casarão, na esquina da Praça Dom Epaminondas com a Rua Coronel Jordão, houve uma apresentação cinematográfica, o que é, historicamente uma loucura vanguardista. O tal do casarão pertencia ao Dr. Barnabé Ferreira de Abreu e Costa, um taubateano que levava em sua pele uma ligação aos avanços europeus. Nessa noite Mariana da Luz estava presente, servindo suspiro de coco, feito por ela, aos convidados. No escuro, na semi luz da tela, no canto da biblioteca do Sr. Barnabé, num acesso de pequeno descontrole, Catarino segurou-lhe as mãos e afoitamente beijou-lhe os lábios.

Houve momentos sem ar, respiração, aceleração cardíaca.

No ano de 1908, Aristides Campanário, depois de acertar e combinar com o pessoal do Teatro Amador de Taubaté, instalado no Teatro São João, o chamado cinema itinerante “Caminhando Sempre”, de propriedade do Sr. Aristides apresentou vários filmes do chamado “Cine –Raur”no Teatro São João, filme com cenas de paisagens e pequenas histórias do dia a dia. Nessa época, Mariana da Luz já havia se casado com Catarino Amadeu; o casal tivera um filho lindo, o menino “Panorâmico Amadeu”.

Em 1909, Joaquim Carvalho e Benedito Patto restauraram a sala da casa do Comendador Costa e realizando um sonho, criaram o Cinema-Rio, na Rua Visconde do Rio branco. Na noite da inauguração, a Banda dos Ursos tocou à entrada da casa de projeção. Mariana da Luz estava presente, mas separada de Catarino Amadeu e juntada com Felício Breda, artista do Teatro São João.

O Cinema-Rio, restaurado, passou a representar em Taubaté a moradia da Sétima Arte, que estava nascendo. Filmes como “Princesa Nicotina”, “Pela Honra da Família”, “ Ladrões reabilitados”, ocuparam e preencheram o imaginário do povo de Taubaté e de Mariana da Luz, que neste momento estava perdida de amor por Tibúrcio Rego.

Cantiga à Mariana da Luz:

Mariana da Luz
Tinha, sem dúvida, um olhar lindo,
Suave, alongado, cheio de vida.

Com esses olhos,
Amou perdidamente o jovem Catarino.
Amor carregado pela brevidade do tempo.

Com esses mesmos olhos,
Entregou-se a Felício Breda,
Homem ligado ao teatro.

O seu olhar, no inverno, ficou meio azulado,
Acinzentado até.

Mariana da Luz,
Com esse olhar misto de história,
Fugiu com o jovem Tibúrcio Rego,
Artista saído das telas de cinema.

Esse amor nascera e fortalecera o imaginário dos taubateanos.
Esse imaginário vestiu as roupas do sonho e da imaginação, compondo
O mundo de ficção das terras que rodeiam a Mantiqueira.
Poema escrito por Adriana Padoan

Prof. Carlos Roberto Rodrigues