Era noite vestida de preto.
O professor nasceu menino,
sem giz na mão, sem arma escondida
no madeirame com pouca função.
Maria, sua mãe ainda criança,
brincava com uma borboleta vermelha.
José, seu pai, carpinteiro ,
Ajeitava as madeira envelhecidas, do velho
estábulo.
O menino já ensinava – nascer humilde é muito
bom.
Viver sem morrer pelo luxo é suavidade.
Ter uma manjedoura como berço, parece sonho
que nunca foi sonhado, mas mesmo assim
existe.
Dentro do estábulo há animais; todos pensam.
Há pastores, pequenos lavradores, amam e
pensam, plantam a terra, geram a vida.
Jesus, bem menino, sorri, brinca, olha o telhado
sem economia, a cobertura de barro sem
cambio, sem lucro, sem excedente de nada.
O sono encosta no coração. Sono ritmado.
Era sol de espantar o próprio sol.
O menino de nome inflacionado,
Paulo Roberto Guedes, nasceu sem reforço.
Berço de mogno, lavrado no pó chorado
do ouro.
A mãe parecia princesa.
O pai poderia ser qualquer coisa existente,
até um sapo herói, se quisesse.
Mordomos com cara de saco puchado.
Médicos, bem pagos, achando a criança
Linda. Nada era verdadeiro.
O menino cresceu, estudou, cantou rock.
Estudou o que o cérebro aguentava,
não era tanta coisa.
Andou por Chicago, estudando coisa pronta.
Lecionou, trabalhou, noiteou, uiscou,
mulherou dentro e na periferia das horas.
Mexeu com dólar. Leu a bíblia, conheceu a
Eva antes da chegada da cobra. Colocou
um dinheirão no paraiso fiscal. Adão emputeceu.
Mas com tudo isso, e por isso, foi castigado.
Conheceu Bolsonaro. Homem vazio. Sem
massa cinzenta, masturba-se com o cheiro
de um fuzil. Diante de tanta tristeza,
nos corredores, salas, becos, esconderijos
quando encontra-se com Bolsonaro.
Acreditem. Guedes deve sorrir, um sorriso,
com cheiro de Purgatório.
Prof. Carlos Roberto Rodrigues