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quarta-feira 27 novembro 2024
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Leitura de Taubaté – Motociata

Ele fazia campanha para o cargo de presidente de um país chamado Braseiro. Os partidos políticos formados a partir dos efeitos dos fenômenos naturais, classificaram-no como um homem com sérios problemas pessoais, visíveis e invisíveis, tais como: tendência narcisística; dizem que, quando jovem, apaixonara-se por si mesmo, de tanto olhar no espelho do mágico Alberto; era um grande namorador, mas na maioria das vezes, abandonado por levar horas e horas ao lado das namoradas, falando de si mesmo; na força de defesa do Estado, tentou pular de um avião sem paraquedas, acreditando que voaria, pois era um ser perfeito; não confiava em ninguém, acreditando ser a medida planejada pelo universo; casou e teve alguns filhos que, após o nascimento permaneceram no Hospital Central realizando centenas de exames; na opinião do pai os filhos podiam ser seres mitológicos, divinos, nascidos de uma rachadinha do Monte Olimpo.

O seu olhar, segundo o Dr. Sócrates, pertencia ao mundo dos seres aloprados, aqueles que levam tempo para entender as letras, as palavras, e como organizá-las em texto. Quando tentava organizá-las, produzia uma fala sem cultura, áspera, grossa, machista, violenta. O que ele falava não correspondia o que pretendia dizer. Quando conseguia dizer o que pretendia, a fala desviava o som para a alienação.

Na tarde de um dia de colheita da picumã, enquanto fazia um discurso eleitoral, o pobre do índio Joaci, limpava o seu arco e a sua flecha, num cantinho de um jardim de rosas pretas, coisa das mais raras. Joaci sentiu vontade de espirrar; respirou 3 vezes, conteve, mas o espirro saiu, levando no impulso a flecha limpa e lapidada, acertando o querido e precioso candidato em sua divina barriga da perna direita. Foi internado no Hospital Fabular; foi operado pelo cacique Tiroque, médico e feiticeiro dos bons. O fato, o acontecimento o levou a condição de herói das causas normais, anormais e paranormais. À noite, na luz morteira do hospital, recebeu a visita de um padre, um pastor, um médium, e um pai de santo.

Do padre recebeu uma oração; do pastor um sermão; do médium, uma cópia de um filme americano, do pai de santo, homem puro, recebeu um livro.

Na madrugada, movido pela ansiedade, assistiu ao filme “Sem Destino”, de 1969, dirigido pelo fantástico diretor Dennis Hopper. São dois jovens revoltados que pilotam as suas motos até o México, entregam um pacote de Cloroquina a um homem de Rolls Royce. Com o lucro obtido voam com suas motos pelos Estados Unidos, sonhando e falando coisas equivocadas; moram com os hippies, e morrem porque a morte era necessária.

Depois do filme abre o livro deixado pelo pai de santo. O livro contava a história heroica e linda da Dona Cloroquina.
A Cloroquina nasceu como casca da chinchona, uma árvore proprietária de uma grande zona na floresta. Essa casca tem uma série de variantes e cepas que impedem a manifestação da malária, acalma as febres e já foi testada nos centros psiquiátricos, para tratar da síndrome de traição, oposição, concorrência.

O general americano John Milan, em um dia dedicado à limpeza de trincheiras, trancou Hitler na sala de reunião pacífica, e, aos berros, disputaram a posse da Cloroquina. Hitler ficou transtornado, passou 3 dias sem mascar chicletes e sem matar ninguém.

Mas retornando a história do nosso candidato, ao momento que nos interessa, ele foi eleito por pena, dó, romantismo e por medo de um papai noel, barbudo, que roubara o armazém que lhe vendia combustível para as suas renas, sendo preso e condenado por entender de negociação, convencimento, corrupção.

O nosso homenageado presidente do Braseiro, lembrando-se do filme “Sem destino”, que assistira no hospital, por ocasião do tratamento da flechada, resolveu, num momento de poucos bons pensamentos, organizar uma passeata de moto, até ao México, para reencontrar o desconhecido dono de um Rolls Royce, para enchê-lo de cloroquina. A passeata saiu de sua ideia, entrou em uma folha de papel e ganhou a estrada. Ele, presidente, colocou um capacete de skate na cabeça, um esporte americano de 1959, ligando a sua moto. O Tarcisão, ministro militar por vocação organizou o trajeto; o ministro Salles levou a proposta de venda de madeira invisível; o ministro Marcos Pontes, morrendo de vergonha, disfarçou-se de astronauta, os deputados, palavra que vem do latim significando aqueles que cortam, imputam, recolheram as máscaras dos motoqueiros que as usavam, e a Carla, uma lutadora por Alagoas, a mulher que conseguiu desviar a rota do vírus da Covid, naquele Estado.

A passeata tomou conta das estradas, das paisagens, lagos, restaurantes, andantes, homens perdidos nos acostamentos.

Ao entardecer, por um erro no roteiro, entraram em São Paulo imaginando as indicações vermelhas, cor de sangue, das placas que antecedem a chegada ao México. Meio perturbados e desarticulados, estacionaram as suas motos no Ibirapuera, lugar lindo, histórico, sendo recebidos pelo governador do Estado, que gentilmente explicou-lhes a origem do nome Ibirapuera: “Vem do tupi guarani, significando uma árvore podre, sem seiva, sem galhos, sem folhas e flores; uma árvore boa para viver no lamaçal, no lodo, nos aluviões formados com o caldo grosso da Cloroquina”. E a noite abraçou São Paulo que, de tristeza, chorava baixinho.

Prof. Carlos Roberto Rodrigues