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sábado 23 novembro 2024
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Leitura de Taubaté – Jânio e Jango

Há acontecimentos que o Brasil não pode esquecer. Houve um Gabriel que morou por essas bandas. Ele conseguiu inclusive fazer um filho chamado Jânio Quadros. O senhor Gabriel era médico, atendia em seu consultório, receitava remédios existentes em sua própria farmácia e, durante a noite, nos horários dos sonhos dos pardais praticava aborto nas prostitutas da região do Bom Retiro, gesto de humanidade, caridade, fraternidade, pois segundo o próprio, se não o fizesse, muitos rapazes oriundos das boas famílias, estariam prejudicados. Esse senhor Gabriel era nervoso ao extremo, a sua emoção vivia fora do prumo e, por qualquer olhar meio torto, a sua pessoa, chamava para a briga, e o pau comia solto.

Quando o filho do senhor Gabriel, Jânio Quadros foi eleito governador de São Paulo, o médico aborteiro, pai do governador eleito, escreveu nos jornais: “meu filho, governador, possui um caráter selvagem. Na sua infância, teve poucos amigos, pois, mesmo nas brincadeiras, impunha a sua vontade; era um garoto ditador. As suas ações, as suas atitudes, quando errôneas procurava dissimulá-las, jogando a culpa nas costas de alguém. Na adolescência, sonhava ideias horríveis, sempre lutando para disputar o poder com alguém. Na sua transformação de homem para político, passou a adorar a interpretação, o fingimento, a linguagem para impressionar o povo”.

O governador Jânio Quadros, logo depois da leitura do texto do pai, publicado em um jornal, não teve dúvidas, internou o querido genitor num hospício especializado em tratamento do delírio, ficou internado por uns tempos.
Jango, como era conhecido, não se destacou na escola primária, muito menos no ensino fundamental, no colegial, na faculdade de Direito. Por outro lado, destacou-se no esporte, especialmente no futebol, no vôlei, e na paquera tecnológica.

Aos 16 anos, na floração dos girassóis, engravidou a empregada doméstica de sua casa; para não perder o costume, anos depois, engravidou outra funcionária do seu precioso lar. Na juventude, adquiriu carteira permanente em todos os bordeis da nação brasileira; buscando especializar-se no esporte sexual, matriculou-se em inúmeras zonas de prostituição, andou com todas as vedetes famosas dos canais de televisão do seu tempo, abraçou a boemia, os drinques, o violão, as serestas, identicamente ao homem que poetiza o fervilhão aquecedor da vida.

Um cometa estranho sobrevoou os céus do Rio Grande do Sul; Jango, aproveitando o sucesso do fenômeno, casou-se com a linda Maria Teresa, sem abandonar o som do violão acalentando a chegada da madrugada, e o horário explosivo dos cabarés.

Jango caminhou pelo meio das estradas da vida; administrou a sua fazenda com competência, amor, dedicação, capacidade, e usou a tecnologia vinda de todos os lugares do mundo. No dia de todos os santos, atendendo ao pedido de um amigo, inscreveu-se num partido político, transformando-se em alvo de interesse dos políticos profissionais.
Agora, vamos ao que nos interessa, no ano de 1961, por um golpe de sorte, Jango tornou-se vice-presidente de Jânio Quadros, o presidente mais desarmônico que já passara pela cadeira presidencial, onde os eleitos repousam as suas nádegas.

Houve um dia, na vida de Jânio, que o seu pensamento desejou tornar-se um ditador, um posseiro do poder; foi nesse pedaço de tempo que Jânio consultou a fada “Copulada”, perguntando-lhe: “Como poderei tornar-me um presidente perpétuo da nação brasileira, mais ou menos como a rainha que nora no Palácio de Buckngham”? A fada coçou a cabeça, cuspiu de lado, coçou o dedão do pé esquerdo e disse-lhe: “você ficou abalado com o pronunciamento do Carlos Lacerda, o Corvo, em rede nacional, criticando-lhe. Você só tem uma saída certeira; escreva uma carta renunciando ao cargo de presidente. O povo brasileiro te adora, o congresso te adora, as forças armadas te respeitam. Entregue essa carta ao Pedroso Horta; quando ele ler esta missiva no Congresso, todos pediram a sua permanência. Ai, você exigirá o possível e o impossível”.

O Congresso aceitou a renuncia de Jânio, as forças armadas aceitaram o sumiço de Jânio. Jango, o vice-presidente estava em visita na China, quando soube da renuncia de Jânio Quadros; para sermos mais verídicos, Jango estava entrando no quarto da bela Meixiu, cortesia do governo chinês. Sabemos que ele sorriu, refletiu, abraçou a chinesa e, na próxima semana falaremos do governo de Jango.

Prof. Carlos Roberto Rodrigues – é professor de Literatura