Em um vilarejo, no alto de uma montanha, com o sol forte do meio dia, banhado pelos raios irritantes do sol, o garoto acorda indignado, em seu dia de folga é obrigado a acordar mais cedo do que o pretendido, contudo ao sentir o cheiro inigualável da comida caseira de sua mãe, um sorriso abre entre seus lábios.
Dirigiu-se prontamente a cozinha, onde sua mãe apática dava os últimos toques a um dos pratos, seu pai sentado desde o início, a observou com anseio como um amante que há muito não via sua amada, o garoto então sentou-se a mesa de madeira simples, sua família apesar de nunca passar fome, sempre fora muito humilde, jamais haviam tido algum luxo.
Após terminar o prato e colocá-lo sobre a mesa, a mãe levou o gato para fora e sentou-se à mesa. Durante todo o processo seu pai a admirava com resoluta paixão como se essa fosse a última vez que fosse vê-la. O pai tentou sem sucesso acariciar a face da mãe, que nem mesmo olhou em sua direção.
Desiludido o pai levanta, veste sua armadura perfurada e atravessa a porta. O garoto observou tudo e ficou pasmo, sua mãe que agora só olhava o vazio assento a sua frente nunca havia feito algo parecido, muito pelo contrário, até semana passada dos dois estavam perdidamente apaixonados.
Um silêncio estranho surgiu e por alguns minutos ali ficou, até que os olhos verdes de sua mãe começaram a escorrer lágrimas, sem se importar com o mundo a seu redor a mãe ficou ali chorando por minutos a fio, até finalmente perceber a presença de seu filho e sair envergonhada.
Sem fome decidiu procurar seu pai, deixando o almoço intocado, saindo pela porta encontrou um céu lindo azulado, os passarinhos cantando, borboletas adornando as flores desabrochadas, um arco íris de tão colorido. E apesar do dia maravilhoso em sua frente com exceção do inocente rapaz, a paleta de cores ao redor das pessoas era vista como cinquenta tons de cinza.
Tinha várias casas avariadas, e um monte de pessoas dormindo junto a rua, contudo já estava acostumado e não se distraiu, seguindo diligentemente até a antiga árvore onde seu pai prometeu que mesmo no fim, brincaria com ele no morro da anciã.
Ao subir o considerável morro, encontrou seu pai sentado na árvore solitária, que ao perceber a presença do garoto sorriu, ao decorrer daquela tarde seu pai cumpriu a velha promessa, deixar seu filho contente sempre foi uma das pequenas coisas que sempre apreciou, o melhor presente que Sophia lhe deu. Depois do dia perfeito seu filho jaz em seu braço adormecido sobre a velha árvore, e ao observar o por do sol e a vila abaixo suspirou e fechou seus olhos, com direito a uma lágrima que caiu sobre o rapaz adormecido em seus braços.
O garoto acordou com um osso batendo em sua cabeça, e ao pegar a mandíbula ainda com carne putrefata, olhou para o que restara de seu pai, sua cabeça quase completamente comida pelos corvos, sua armadura ensanguentada e perfurada por uma enorme lança, seu único olho restante o observava sem cor, no lugar de suas pernas um rastro que ao segui-lo visualmente, o garoto se deparou com um campo de batalha, onde em algum lugar as pernas de seu pai se encontravam. A ilusão havia terminado.
Prof. Carlos Roberto Rodrigues