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segunda-feira 23 dezembro 2024
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Leitura de Taubaté – E tudo se repete

Pero Vaz de Caminha, segundo os historiadores que, sedentos de informação, vasculharam-lhe a vida, nasceu na cidade do Porto. A data do nascimento nunca foi devidamente esclarecida, mas deve ter acontecido em noite de lua cheia, branca como um floco de algodão, mais ou menos em 1450.

Seu pai, Vasco Fernandes Caminha era filho de algo, um escrivão de profissão reconhecida, trabalhador da corte e dos comerciantes renomados. Gostava de vinho, peixe, cabelos-de-anjo, mulheres e, de vez em quando, uma noitada no Império da noite, cabaré famoso pela apresentação de garotas exóticas, lindas, especializadas na prática do sexo aberto, livre e alucinado.

A grande preocupação de Vasco, por ordem de necessidade imediata, era a educação do seu filho Pero Vaz de Caminha. O fidalgo da corte reorganizou os seus horários, leu o manual dos ensinamentos escrito pelo mestre Leôncio Cascado, atirando-se, ele mesmo na educação de seu filho.

Pero Vaz de Caminha estudou muito; leu a literatura de sua época; participou da vida social do seu tempo; aprendeu todos os mistérios e desenvolvimento da profissão paterna, tornando-se, como era o costume do período, escrivão juramentado.

Na juventude, participou da guerra contra Castela, entrou na carreira burocrática da corte, foi vereador, trabalhou na casa da moeda, cavalgou a dimensão dos campos de Portugal, participou de todas as caçadas promovidas pelo reino.
Surpreso e feliz, foi nomeado escrivão da frota comandada por Pedro Alvares Cabral, o maior projeto de navegação até o momento, idealizado e promovido por Dom Manuel. A frota sobre o comando de Cabral, com destino as Índias ganhou o mar numa manhã de sol, diante de milhares de pessoas. O povo comemorou, dançou, aplaudiu a partida e os sonhos dos que se lançaram no vácuo sombrio de todas as aventuras.

O navio enfrentou as águas dos dias e das noites. Os marinheiros, homens experientes não tiraram o olhar do infinito e, num dia marcado no calendário, intencionalmente, por acaso, ou achamento, a frota deu com o madeirame dos navios, nas costas do Brasil.

Pero Vaz de Caminha, inspirado pela força do acontecido resolveu escrever uma carta a Dom Manuel, rei de Portugal, narrando a descoberta de uma nova terra. Escreveu sobre o fato em si, descreveu a natureza da terra, a grandiosidade, as características do clima, das águas purificadas, da nudez dos índios e das índias e realizando um gesto profético, mostrou o destino, o caráter, a personalidade da política que imperaria nessa grande nação.

Escrever sobre profecias é um trabalho descomunal, cansativo, desgastante. Caminha inicia a sua escrita “adivinhatória”, falando da importância do seu cargo, da sua capacidade como escritor, de como o rei estava bem servido em tê-lo a bordo da aventura de Cabral. Após esse comentário pessoalíssimo, pede um favorzinho ao monarca, mandar-lhe o seu genro, Jorge de Osório, de São Tomé, na África, ao seu encontro ou ao retorno a Portugal.

Vejam bem, não é preciso desgastar o olhar, o Brasil começa com um pedido, uma insignificante solicitação ao rei, o envio de uma pessoa, de um lugar para outro. O que precisamos saber, além desse pedido, e que Pero Vaz de Caminha tinha uma filha, Isabel de Caminha, filha única. Isabel, caminhando o seu destino, casara-se com Jorge de Osório, um excelente golpista, ladrão nas horas vagas, assaltante zeloso. Certo dia ou noite, Jorge assaltara um padre a mão armada. Foi preso, julgado e sentenciado ao degredo a São Tomé, na África. Pero Vaz de Caminha faleceu oito meses após a descoberta do Brasil; morreu em Calicute, durante um combate com os nativos. Seu genro, porém, obteve a liberdade. Continuou, segundo conterrâneos, assaltando, mas de forma mais branda, sem armas…
Assim temos o início e o desenvolvimento da terra “Brasilis”…

Prof. Carlos Roberto Rodrigues