O dia apareceu no mesmo lugar, não havia mudanças visíveis, até os pardais voavam na mesma direção, sem a necessidade de apresentação de passaportes.
Às margens do Rio Ipiranga, na sombra das bananeiras, Dom Pedro I enfrentava uma crise intestinal das mais sérias, tanto biológica quanto historicamente; entretanto, considerando a gravidade da situação, deu o grito da independência do Brasil.
Após as comemorações relativas à independência, nascidas e desencadeadas dentro dos corações brasileiros que cantavam, dançavam, pulavam. Os portugueses originais viviam uma situação insólita, nova, estranha, pois, de alguma maneira, perderam o domínio sobre a colônia.
Dom Pedro I, perseguindo a narrativa do capitão Izidro, criou um sistema político isolador do poder e das forças municipais. O imperador fortaleceu por meio de doses maciças da erva capitânia, usada como complexo vitamínico, as províncias, ou seja, subdivisão de uma nação em pedaços de terra sob o domínio do imperador. Os poderes constituídos por Dom Pedro I adotaram o processo de eleição indireta para a função dos presidentes provinciais.
Os eleitores das províncias, obrigatoriamente, deveriam apresentar formação média, uma profissão registrada oficialmente, participação do poder, ou melhor, os recolhedores de impostos. Essa pequena exigência excluía a maior parte de povo do sistema eleitoral, realidade que beneficiava a maioria dos portugueses, ocasionando o nascimento de um menino chamado Xenófobo, filho do senhor Xenós (estrangeiro) e da senhora “phóbos” (medo), casal que aprendeu a se amar na beira do rio Piada, local erótico, próximo à Ponte dos Gozadores. Dizem que Xenófobo passou a ganhar a vida contando histórias cômicas dos portugueses.
O Brasil é um país muito feliz, pois tem um passado dos mais bonitos, porém, desconhecido. Dom Pedro I imaginava esses vibratos ditatoriais sobre o delicioso corpo da amante Marquesa de Santos. Olhando as ondulações dos seios da Marquesa, Dom Pedro I monopolizou a câmara e o senado. Descendo os olhos nos caminhos das ruelas incógnitas o monarca, aos berros, apossou-se do Conselho de Estado e Ministérios.
Os portugueses da Taverna Tejo, na Boa Vista, cozinheiros e atravessadores do mar, organizaram uma churrascada de bacalhau na grelha. O imperador chegou acompanhado da cantora Malvina dos Cascais. O rei bebeu, comeu, dançou, beijou e, mentalmente criou o Conselho do Estado, o chamado Poder Moderador.
O Conselho Moderador era formado por membros vitalícios, nomeados pelo Rei, uns 10 homens bem próximos, que tinham a função de aconselha-lo, ajuda-lo na administração da esperança e desesperança, escrever os seus discursos, corresponder-se com o mundo, uma bola azul ocupada por um aguaceiro sem dimensão e um punhadinho de terra.
Os portugueses apoiavam o Conselho Moderador, amavam-no faziam cavalaciata nas ruas para apoiá-lo. Os liberais, na maioria, brasileiros, pensavam no valor da liberdade, da igualdade de todos os homens perante a lei, o direito pleno de se opor a babaquice desorganizada.
O ano de 1830 nasceu enroscado na galharia da sina encristada nos signos de transformação. Na França febril e desvairada aconteceu uma enorme revolta liberal que, como fogo, arrastou-se pelo universo. A massa sem nome, formada por gente de carne e osso, fome e cansaço derruba o Rei Carlos X. No Brasil, com banho ou sem banho de praia, com canto de canário ou papagaio, os liberais fundaram o jornal Aurora Fluminense, uma oposição com cheiro de tinta e pensamento ao monarca Pedro, o primeiro.
Em São Paulo, lugar assinalado pela garoa, Libero Badaró funda o jornal “Observador constitucional”, abrindo passagem aos livres pensadores, sonhadores, idealizadores. O seu corpo, sem uma faísca de vida, é encontrado tombado numa Rua de São Paulo. O público sai às ruas, o povo fala e a sua voz percorre a Sé, Liberdade, Rua Sem Nome, Rua do Mistério, Rua do Destemor.
O Rei tenta acalmar os ânimos, esfriar a temperatura, paralisar a vida das ideias. Viaja a Minas Gerais, enfrenta a Noite das Garrafadas, no Rio, um combate ideológico entre brasileiros e portugueses.
Em 07/04/1931, as 4 h da madrugada, Dom Pedro I renuncia ao trono brasileiro em nome de seu filho, Pedro de Alcântara, o futuro Pedro II, de 5 anos de idade.
Discurso possível e profético de Dom Pedro II, aos 5 anos: “Juro, perante Deus e a pátria, vacinar o povo, combater o desemprego dos brasileiros, usar máscara, lavar as mãos com álcool, não pedir gorjeta de 1 dólar a país nenhum, não levar facadas para fugir dos debates, amar a arte, a poesia, a inteligência, o respeito e não falar um palavrão”! E assim, lentamente, o Brasil consegue construir a sua história.
Prof. Carlos Roberto Rodrigues