No edifício “Imperador”, quinto andar, sala 367, aconteceu a reunião política encarregada de compor a chapa que disputaria a eleição presidencial, daquele ano de 1989. O candidato à presidência, Fernando Collor de Melo, chegou meia hora atrasado. Os correligionários apresentaram-lhe uns vinte nomes de políticos, que poderiam ser indicados para a vice-presidência. Collor não pensou muito, em sua cabeça havia uma certeza e um desejo: “quero um candidato que não me faça sombra, que não empate o meu caminho, que não obscureça a minha imagem”. De acordo com a determinação de Collor, escolheram o senador Itamar Augusto Caltieiro Franco; para a formatação da chapa do brilhante Fernando.
Como é do conhecimento da maioria dos brasileiros, Collor foi eleito presidente do Brasil depois de três longas e trágicas décadas de ditadura. O ano de 1989 embrulhou, num só pacote, o sonho de liberdade, esperança, decepção, dúvida do povo brasileiro; não sabemos exatamente o porquê, mas o Brasil, a partir dessa data, nunca mais seria o mesmo.
Os acontecimentos foram cumprindo a suas missões no decorrer de cada tempo. Em 19 de outubro de 1991, o Dr. Luiz Otávio Motta Veiga, impulsivamente, pediu demissão da presidência da Petrobrás. O motivo apresentado, como justificativa, causou pânico: fora pressionado pelo empresário Paulo Cesar Farias, ex-tesoureiro da campanha de Collor, e amigo pessoal do presidente, a fazer uma operação financeira que, naquele instante, causou um prejuízo de 60 milhões à empresa petrolífera. O Brasil sacudiu-se por dentro e por fora, ninguém acreditava no que estava acontecendo. O povo elegera o jovem, dinâmico, atleta, caçador de marajás, para varrer a corrupção do país.
No dia 10 de maio de 1982, Pedro Collor de Melo disparou uma bomba atômica no coração do país enfraquecido; um explosivo feito de papel, tinta, rancor, ódio, vingança, chamado dossiê que, pelo próprio nome, anuncia tragédia.
O documento denunciava a existência de um esquema de corrupção planejado por Collor e Paulo Cesar Farias. O presidente tentou se justificar, fazendo um discurso emocionante, conclamando o povo a sair às ruas, vestindo roupas de tonalidade verde-amarela, para defendê-lo. O povo ouviu o presidente, mas vestiu-se de preto, preto representando a decepção.
No dia 29 de setembro de 1992, o presidente Fernando qualquer coisa, segurando a mãozinha de sua esposa Rosane Malta, deixa o poder, o Planalto, a glória, a honra, perdendo-se no meio da multidão. Dessa forma, triste e deprimida o senador Itamar Franco sobe a rampa do Castelo central do país, para assumir a presidência de uma nação mergulhada em seu desespero congênito.
Itamar nasceu no colo de um navio que fazia a rota Salvador-Rio de Janeiro; nasceu sentindo o balanço e a voz do mar. A família o registrou na Bahia, terra da Mãe Menininha de Gantois, de Castro Alves, de Jorge Amado; no entanto, nas suas idas e vindas, viveu e cresceu em Juiz de Fora, das Minas Gerais e, particularmente, de João Guimarães Rosa.
Em 1993, procurando alternativa, o povo compareceu às urnas para escolher o sistema político que conduziria o Brasil para o futuro, parlamentarismo ou presidencialismo; o único problema ocorrido nesse plebiscito, residia na formação cultural brasileira, ou seja, a maioria dos eleitores não sabia o que era um sistema parlamentarista.
Retornando ao governo de Itamar, encontraremos um quadro desolador; a inflação atingia quase 3.000% ao ano, a educação desagregara-se do seu compromisso básico, o desemprego distribuía apatia e medo aos trabalhadores brasileiros, a violência peregrinava em todas as comunidades.
Na maioria das vezes, a política pode nos arrastar por caminhos imprevisíveis.
A característica de Itamar, na função de presidente, revelava-se numa espécie de dueto bem simples: nomeio, se for incapaz, retiro a nomeação. Em dois anos de mandato, chegara a nomear mais de 50 ministros.
Entretanto, entre tantas indicações, nomeou Fernando Henrique Cardoso ao cargo de Ministro das Relações Exteriores e Ministro da Fazenda; é bom saber que, Fernando Henrique fora o quarto ministro a ocupar a pasta.
Fernando Henrique, aquecido pelas suas ideias sociológicas, montou uma equipe composta pelos grandes economistas do Brasil e, em uma noite qualquer nasceu o Plano Real.
A inflação começou a ceder, os empregos foram saindo de suas tocas, o índice que indicava o percentual numérico da população vivendo abaixo da linha de pobreza, despencou. A economia passou a respirar, andar, existir e os investimentos foram chegando.
O presidente que detestava a cor marrom, não usava sapatos pretos, meias pretas, nos voos de avião, não se sentava ao lado das janelas nos voos particulares ou presidenciais, durante o seu mandato, resolveu assistir ao Desfile de Carnaval, no Rio, no Sambódromo, pois era um sonho de juventude, um sonho que povoava os seus pensamentos em Juiz de Fora.
O presidente foi convidado a assistir o desfile, do camarote do presidente da Liga das Escolas de Samba. Itamar comeu uns camarões embelezados na cozinha do mestre Lohan, tomou uns uísques, e conheceu a linda Lilian Ramos, destaque da Viradouro. O presidente de topete semelhante a uma crista de galo abraçou a carnavalesca Lilian e não mais a largou. Ao lado dela, entrou solenemente na folia.
Um fotógrafo dos bons, daqueles que observam todos os ângulos da realidade, fotografou o casal debaixo para cima. Como todas as ações do seu governo nasceram de um sobressalto, Lilian estava sem a parte de baixo do seu biquine, que em silêncio, sob uma saia rodada mostrava-se ao mundo.
E Itamar, presidente tropicalista, que solicitara, à Volkswagen, o relançamento do fusca, conquistou as capas de todas as revistas da Europa e EUA, América Latina e sem traumas viveu sem nunca ter-se esquecido do sambódromo, da nudez por uma boa causa.
Prof. Carlos Roberto Rodrigues