Artur da Silva Bernardes nasceu em Viçosa, Minas Gerais, em 08/08/1875. Em 1897, período histórico de escabrosas alterações místicas e filosóficas; alistou-se no Batalhão Patriótico de Bia Fontes. Esse Batalhão assumira a missão de combater os homens sofridos do Brasil, habitantes de uma região chamada Canudos. O líder desse povo desnutrido, cansado, humilhado atendia pelo nome de Antônio Conselheiro, um guerreiro que usava um cajado na mão, orava para o Deus Real, calçava umas sandálias de couro cru, celebrava a ultima ceia de Cristo e enfrentava uma república que acabara de nascer.
Nessa época, Artur Bernardes conheceu um menino estranho; olhar extravagante, andar cambaio, de inteligência mediana, mas proprietário de um rosto bem freudiano, uma espécie de neura saltitante e indefinida. Artur como era o seu costume, levou o menino a benzedeira Acangaiba, procurando saber o seu monã, nesse pequeno planeta. A benzedeira invocou o deus Tupana que, naquele instante caçava saúva para o jantar. Mesmo com fome, emburrado, declamou a sua predicação: “Há menino no velho mundo que não cresce, sempre atua como criança. Este menino que tem os pés firmes ao seu lado crescerá lentamente, uma linha por dia. Lá pelo século XXI, após todos os nossos falecimentos de corpo e alma, ele governará, numa confusão danada um país, uma nação. O seu nome foi escrito num barranco argiloso significando: Jairzinho, coisa que queima, brilha como chama; Messias significa oleado, objeto mergulhado em óleo e Bolsonaro, fluido em combustão”.
Artur Bernardes gostou, pôs fé nas palavras da dona Acangaiba, colocou o garoto sobre a sua proteção. Artur Bernardes fez o curso de direito no Largo de São Francisco, não foi um estudante brilhante, porém, não era dos piores.
Ele estudava até diante das estrelas, mas sempre ao lado do seu companheiro Jairzinho.
Em 1922, sempre acompanhado pelo menino Brilho, lançou-se candidato à presidência da república tendo como oponente o mulato Nilo Peçanha. Essas candidaturas trouxeram uma nova marca, um desenho com a cara “desavergonhada” das campanhas políticas futuras. A inovação, aqui apresentada, foram duas cartas publicadas no jornal “Correio da Manhã”, criticando o ex-presidente e general Hermes da Fonseca, classificando-o de “sargentão”, chegando a “comandante de orgias sexuais” e viciado em sucrilhos. A segunda carta se referia ao concorrente Nilo Peçanha, tratando-o de moleque, irresponsável; falando até que tinha um quarto e cachorro para comer gente.
As cartas, analisadas pela peritagem policial, pela mãe de santo, pelo padre exorcista, adivinhos do morro, foram consideradas falsas. Artur Bernardes obteve 466.877 votos contra 317.714 de Nilo Peçanha. Houve festas, tristezas, foguetórios e silêncios, crença e desesperança.
À noite, na casa de Benvenida, onde houve um baile, o menino Brilho Queimado, profetizou no ouvido de Artur Bernardes: “dia chegará em que homens atravessarão oceanos, monstros, para chegar à Inglaterra. Lá chegando abrirão o dicionário da Academia Britânica; arrancarão com alicate francês a expressão fake News”; colocarão no bolso do paletó e, de volta ao Brasil, colocarão o termo em prática. A expressão significa: notícias falsas, desinformação, boato, tudo o que não presta, que não possui referência. No século XXI, meu momento, conforme a benzedeira Acangaiba, ganharemos a eleição e governaremos o povoado à base de fake News.
O nosso presidente Artur Bernardes enfrentou uma guerra civil no Rio Grande do Sul, conflitos, rancores, tiros, mortes, bancada do ódio, armas para a população, vinham como brinde da bananada Bauá, sangue pelas ruas.
O presidente, após três noites insones, decretou Estado de Sítio. Ao abrir as suas janelas, antes de qualquer tipo de bom dia, decretou uma série de restrições à lei de Liberdade de Imprensa. A sua vantagem era a cultura, o poder da retórica, o discurso claro, profundo, equilibrado, situações que abrandavam as revoltas contra a sua figura de presidente.
A instabilidade política cantava sambas nas ruas e nos bares, nas noites com ou sem crimes. A Revolta Tenentistas contra as oligarquias dominantes, nasceu no interior dos coturnos, no entanto, o presidente a enfrentou. A revolução de São Paulo de 1924, a cidade foi bombardeada, acarretando a morte de 503 pessoas e centenas de feridos; Artur Bernardes enfrentou a luta e o caos, mas sempre achava uma saída possível.
Na tarde em que resolveu tomar água na Fonte das Pedras, a Coluna Prestes partiu para as suas andanças pelo interior do país; no entanto Bernardes tomou água da fonte com muito prazer.
Um fato ocorrido no governo de Artur Bernardes, mesmo colocado sem ordem cronológica, foi a Semana de Arte Moderna. A juventude, em meio ao universo desordenado lutava por uma arte brasileira, arte devoradora da cultura europeia. Oswald de Andrade, depois de amar a moça no vagão elétrico, lançou o Manifesto de Poesia Pau-Brasil, o feto da poesia natural e espontânea; ao cair da noite, amando em uma rede, Oswald coloca nas ruas O Manifesto Antropofágico, a arte da devoração, da digestão, da comilança das influencias estrangeiras em nossa arte.
Era noite sem graça. Artur Bernardes foi até a Câmara para falar sobre o problema do petróleo brasileiro. No dia seguinte, logo pela manhã, lembrou-se do menino: Queima Oleado do Fluido. Os seus pensamentos delinearam o perfil que o menino deverá ter no futuro. Chamou-o e deixou o seu conselho: “não fale nada, só o necessário, a sua oratória não é boa; não tente ser um ditador, para ditar alguma coisa há de saber o significado de cada gesto, diante de qualquer decisão. Contemple os olhos da ciência, escolha as pessoas pela capacidade, lembre-se de Cristo que escolheu 12 apóstolos e foi traído somente por um, é uma linda lição de escolha; não destrua uma árvore por ganância, respirar é muito bom”…Artur Bernardes morreu antes de terminar o texto, mas pelo menos tentou.
Prof. Carlos Roberto Rodrigues