Estávamos respirando o ar doado pelo dia 25/12/1991. A neve vestira a Rússia com um camisolão branco. Dentro das casas, as famílias contavam histórias diante das lareiras e das chamas que clareavam e esquentavam os ambientes. A garrafa de vodca regulamentava os sons das vozes temperadas.
A televisão estatal vinculava as notícias de interesse público; uma senhora de meia idade, ensinava a execução de receitas do tempo dos Czares. De repente, saindo de um pacote de surpresa, o rosto do presidente Gorbatchov tomou conta das telinhas de TV. A sua voz e a expressão do rosto testemunhavam que o presidente explodia em emoção, frustração e desencanto.
Ele, presidente, estava no centro da TV para transmitir ao povo russo seu discurso de natal. O povo bebia, fumava, via e ouvia, as palavras ditas por Gorbatchov. As palavras rompidas na pressão dos lábios anunciaram: “Por força da situação gerada com a formação da comunidade de Estados independentes, estou encerrando minha atuação como presidente da URSS…A sociedade ganhou liberdade, emancipou-se política e intelectualmente. Essa foi a principal conquista, ao qual ainda não assimilamos inteiramente, já que não aprendemos ainda a praticá-la”.
Papai Noel entrou no trenó
E foi suicidar-se na toca dos lobos.
Tantos séculos de ditadura que,
Ao sentirem-se livres, o povo não sabia lidar com a liberdade.
A juventude buscou a liberdade
Nas entranhas das garrafas de vodca.
Houve festas no Kremlin, na posse do presidente Boris Ieltsen. O presidente sorria muito, piscava sequentemente, as mãos tremiam sem motivo, a bebedeira antecedera a noite da posse.
Boris foi visitar o Alasca. O avião pousou na pista número 2. O presidente demorou meia hora para descer e, quando o fez, esquecera as normas protocolares, diante da guarda de honra. Não tendo saída, nem memória, começou a fazer micagens. Fez um macaco tonto, tentou interpretar a face de um louco, gesticulou como peru.
Na visita à Alemanha, no almoço de recepção, bebeu apenas seis garrafas de Champagne. Não pronunciou discurso, cambaleou no meio do salão, recitou provérbios sem sentidos e de poucos significados.
Visitou os Estados Unidos. Na chegada da madrugada, andou pelos porões da residência oficial de cueca, bêbado como a vaca filosófica do gigante Golias. Ao lado, de sua maneira de viver, liberou a corrupção, detonou camadas de gordura à inflação, levou a nação a vomitar o seu equilíbrio econômico.
Nas comemorações da chegada do ano novo, dia 31/12/1999, ocupou as redes de televisão para desejar um feliz ano novo ao povo russo. O seu rosto estava afastado da vida; o seu olhar umedecera-se na garrafa de vodca, e o seu discurso arrancou o restante de esperança do povo russo. Ele, apoiando-se no que sobrara do seu amor próprio e disse: ”Estou anunciando a minha renúncia e peço milhões de perdões as povo russo. Tomei essa decisão em nome do meu fracasso, senti muito desgaste, muita dor, no futuro inevitável. Hoje, no ultimo dia do século que termina renuncio a Rússia e a minha vida. Deixo no meu lugar, porém, o militar, espião, mentiroso, chamado Putin. Um homem cheio de síndromes psíquicas, descendente de drácula, louco, vingativo, apaixonado por grana sem origem estabelecida, tarado por sexologia pintada de mil cores”.
No dia 11/02/2022, durante a crise com a Ucrânia, Putin invade os canais de televisão para anunciar ao povo russo a pior catástrofe ocorrida nos intestinos da nação. Ele, com seu rosto de gavião estuprado, fez o seguinte discurso: “Graças a Deus os Czares estão mortos, Lenin é apenas um risco na parede, esse nosso passado está livre de sofrimento de ver, conviver, com o que lhes apresento neste momento: o senhor Bolsonaro, presidente do Brasil. O povo deve estar se questionando, onde está a tragédia? A catástrofe repousa na seguinte afirmação: “Ele parece um ser humano, mas não é, trata-se de uma miragem, ou seja, tem dez por cento do corpo e da mente, roubados do Don Quixote, o louco. Tem uma porcentagem significativa de Martin Fierro, tem muito do Vadinho de Jorge Amado, tem 12 quilos de Augusto Matraga de João Guimarães Rosa, possui temperamento de Buendia, de Gabriel Garcia Marques; sonha com os olhos azuis de Hitler, tem doze colheres de sopa da psicose de Gregore Sansa, de Kafka.
Logo, meu povo russo, a tragédia está em viver o que não é; Bolsonaro nunca existiu, ele é uma receita de bolo recheado com o creme de vários personagens da literatura mundial. A Rússia foi iludida, violada, enganada, ao pensar que fora visitada por uma pessoa existente, ele é só o delírio humano.”
Prof. Carlos Roberto Rodrigues