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segunda-feira 23 dezembro 2024
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Leitura de Taubaté – Bolsonaro e Nero

O bêbado não se lembrava do seu nome, onde morava, o nome da mulher, ou se tinha filho. O álcool resolveu desmontar o cérebro daquele pobre homem que, pelo tamanho de sua revolta, começara a beber no principio de madrugada. A única realidade que seus neurônios não apagaram foram listados num cantinho do consciente: “sou homem”, “moro na Itália“, e sou obrigado a hospedar o presidente do país que já se chamou Pindorama, Ilha de Vera Cruz, Terra Nova, Terra dos Papagaios, Terra de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz do Brasil, Terra do Brasil e, por vários motivos “vermelho como uma brasa”.

Eu sou italiano e estou num “pau só”, mas dizem que o vermelhão deriva-se de uma madeira nativa usada para tingir tecidos ou outra coisa qualquer, que os portugueses encontraram naquelas terras. O nome da madeira, do pau, do porrete, do lenho se não me engano deu Brasil.

O caso real, nas palavras de um pajé-profeta, que chegou a falar com Cabral, na época do descobrimento, é que o nome Brasil, que um dia tornar-se-ia comum, verdadeiro, de guerra, representaria a imagem de um presidente que surgiria nos horizontes do maior paraíso da terra, provocando um braseiro de ignorância, grosseria, maluquice, machismo e complexo narcisista gerado na concepção.

Eu sou italiano, estou travado e numa fossa de fazer gosto, de babar no rosto da história. Eu nasci na cidade de Anguilhara Vêneta, no norte do país, lá onde todos os ventos fazem ou tentam fazer a curva.

O mundo não é pequeno, em todos os lugares nascem gente; as pessoas são feitas em diferentes horários, espaços, ambientes, calabouço, beira de mar, no entanto, por mais que eu delire nesse vinhedo que bebi, eu não mereceria e não mereço que no pedacinho de terra onde fui feito, nasceram também os antecedentes desse braseiro ambulante que arrasta a classe política nos descaminhos de todos aqueles que tentam se afastar do caos que devassa a vida, o amor, o respeito, a beleza, a natureza.

Mesmo estando dentro de um barril de vinho, eu e outros colegas, organizamos um protesto contra o presidente apaixonado pelo Guedes, o seu antigo caso de amor chamado Ipiranga. Alguém o avisou com antecedência, pois o excelentíssimo presidente do desemprego, da inflação, da covid 19, da destruição de dois anos letivos dos estudantes brasileiros, da explosão dos esportes, dos cinemas, dos teatros, dos shows, dos namoros, dos casamentos, dos cultos religiosos, das brincadeiras infantis, dos mercados municipais, dos supermercado, dos shoppings, dos parques, do carnaval, dos bares, dos restaurantes, das pesquisas, dos museus, dos centros de estudos, do turismo, dos asilos, das creches, dos bailes de formatura, das procissões, das paradas gays, das paradas dos machos que pulam sem paraquedas, desviou o seu roteiro fugindo do protesto dos embriagados por conterraneidade.

Mesmo andando pelas calçadas para fugir dos seus guarda-costas; mesmo vendo dois postes no lugar de um, acendi umas trezentas velas em homenagem aos imperadores de Roma que, ideologicamente, pelo jeito de ser, tem um pouquinho do seu DNA bolsonarista.

Essa vela, mais gordinha,
Vai para o Nero, seu inspirador,
E proprietário de seus sonhos.
Essa vela colorida, elegante,
Vaidosa, snob, fútil, pedante
Vai para Calígula, seu cavalo e suas motos.
Essa vela verde, sem palavras na boca,
Vai para Tibério,
O César que não chegou a ver
Jesus, mas o matou através
De Pilatos e do Grande Templo.
A última vela, essa vermelha cor de fogo,
Vai para mim, que estou bêbado e de saco cheio.

Prof. Carlos Roberto Rodrigues professor de Literatura