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quinta-feira 21 novembro 2024
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Leitura de Taubaté – Aniversário de Taubaté

A descoberta do Brasil emocionou o Rei D. Manuel. As notícias sobre a nova terra o empolgaram durante o silêncio brotado nas ondas dos seus sonhos. A terra, as matas, as praias, as montanhas, o canto dos pássaros, a população nativa pintada de bronze. Nesses momentos divagados e sem fronteiras, o monarca acreditava haver descoberto o Éden, a terra primordial.

Na outra ponta dos seus sentimentos, havia uma roda que girava a realidade econômica, social, política, e geradora das ações premeditadas ou não. No momento, a verdade que vinha das Índias, das especiarias, do ouro, das pedras preciosas, impedia o governante de investir na terra recém descoberta.

Essa dualidade dividiu a existência de D. Manuel, os seus olhos observavam a movimentação dos portos, o ruído da abertura dos cofres para guardar os lucros propiciados pelo comércio com as Índias, no entanto, a fotografia do Brasil, mesmo oralizada, não lhe saia da cabeça.

Na tarde do mornaço branco, que tomou conta de Portugal, a “Febre da Modorra” penetrou no corpo de D. Manuel. O rei morreu declamando salmos bíblicos e cantando ritmos desconhecidos. O seu filho mais velho, D. João III, agitado por pesadelos despidos do calor do dia, resolveu organizar uma expedição para alavancar o processo de colonização do Brasil, sabendo que havia um pequeno atraso de 30 anos, coisa pouca, porém significativa. O rei entregou a missão a Martin Afonso de Sousa e ao seu irmão Pero Lopes de Sousa.

Eles deram um bom trato no Galeão São Vicente, na Caravela Rosa, na Caravela Princesa. Reuniram, às presas, padres, filhos-de-algo, soldados, trabalhadores profissionais, juntaram umas 400 pessoas e partiram antes da chegada da lua.

Chegaram ao Brasil munidos de vontade, desejo de fazer o que fosse possível, e uma espécie de sedução para escrever uma nova história. Pisaram a terra e antes que o pensamento navegasse, colocaram centenas de marcos indicativos da posse da terra. Iniciaram a construção de um forte; fundaram a Capitania de São Vicente, trabalheira boa de se ver. Fundaram a Capitania de Santos, plantaram cana de açúcar no ventre da terra; construíram o primeiro engenho, elaboraram uma reforma agrária de emergência, iniciando a doação de terras para o cultivo. Combateram navios piratas franceses e holandeses, contrabandistas de Pau-Brasil.

Antes do retorno a Portugal, conheceu João Ramalho e suas esposas indígenas, comandadas pela índia Paraguaçu. Na volta à pátria natal, antes de sua chegada, o rei D. João III dava início ao seu famoso projeto chamado “Capitanias Hereditárias”, uma divisão do Brasil em 14 pedaços, que seriam doados aos investidores interessados no agronegócio.

A filha de Pero Lopes de Sousa, Mariana de Sousa Guerra, vivendo esses instantes decisivos e revolucionários promovidos pela expansão marítima, conheceu o jovem Francisco Faro, Conde de Vimieiro, um título referente ao Conselho de Évora; ela apaixonou-se, encantou-se, e casaram-se na Catedral cantada por Fernando Pessoa, tempos depois.

A Condessa de Vimieiro tornou-se a quarta donatária da Capitania de São Vicente e, por um processo legal, a primeira donatária da Capitania de Itanhaem.

Há vários ditados no mundo sobre política, mas é do nosso conhecimento que, nem um deles conseguiu defini-la. A política do reino, naqueles tempos longínquos, e tão próximos dos nossos dias, produziu uma série de processos questionando a validade das sesmarias da Condessa, inclusive a de Itanhaem.

Dona Mariana de Sousa Guerra, preocupada com suas posses, deu uma procuração ao bandeirante paulista Jacques Felix, para que penetrasse no Vale do Paraíba, com a missão de realizar a demarcação de suas terras. Ele organizou uma expedição de acordo com a necessidade. Partiu da garoa de São Paulo ao amanhecer de um dia incomum; lançou-se diante do seu futuro e dos seus pensamentos, desbravando, atravessando rios e riachos, enfrentando índios interrogativos e assustados.

Em 1639, mediu a longa caminhada, parou para dar um balanço na aventura refletida em sua alma; olhou a natureza que rodeava a suas andanças e resolveu erguer um povoado nas terras que seu corpo encontrou descanso, paz, e sinais de profecia nas lendas cantadas pelos índios Guaianases. Ergueu a igreja para São Francisco das Chagas, represou a Lagoa do Tanque, fez a Casa do Conselho e a cadeia.

No dia 05 de dezembro de 1645, ano em que teve o início do movimento contra o domínio holandês no Brasil a cidade de Taubaté deixou de ser um povoado, um ponto geográfico sem dimensões definidas para assumir a condição de Vila, situação de prestigio no universo político da colonização.

Taubaté, termo vivo da língua Tupi, um idioma que permitiu aos vocábulos a expressão máxima diante da pluralidade significativa do seu universo. Essa ramificação linguística, partindo da ideia de nomeação de uma Aldeia Grande, está completando 377 anos.

Nas palavras de Jacques Felix, se vivo fosse, sintetizariam a nossa realidade histórica: “TUDO VALEU A PENA”.

Prof. Carlos Roberto Rodrigues