A sua imagem foge da nossa lembrança, apagada dos quadros negros das nossas salas de aulas. O seu nome passa como a pressa do bento mas, de vez em quando, ressurge nas páginas dos livros de história; estamos tentando escrever algumas frases sobre o presidente Afonso Augusto Moreira Pena.
O presidente Afonso Pena nasceu em Minas Gerais, filho de um fazendeiro de café, fazenda de porte médio. Estudou no famoso Colégio de Caraça, uma instituição de ensino que marcou a história da educação no Brasil. A disciplina fazia parte dos processos de avaliação da escola; o planejamento era interligado, procurando mostrar que o estudo de humanidades, o estudo das matérias exatas e biológicas estava costurado no mesmo pano, isto é, na bandeira cultural de uma geração.
Naquele tempo em que São Paulo mostrava o seu rosto através da garoa, da produção, do cheiro dos cafezais, Afonso Pena estudou Direito na faculdade do Largo de São Francisco, a mesma estrutura cultural que marcava a vida de grande parte dos poetas do nosso Romantismo.
Em sua vida política, comprometida com o Partido Liberal, foi ministro, por três períodos, do imperador D.Pedro II, além de participar das campanhas abolicionistas.
No momento da proclamação da nossa república, após a leitura das propostas políticas de Deodoro, declarou que o cheiro da república nascente aproximava-se, seguindo uma atitude escandalosa, de um tropeço militarista.
Afonso Pena era um homem miúdo, andar rápido de quem tem o destino traçado, não olhava para os lados e, muito menos, para um passado indigesto. Em 1892, eleito governador de Minas, deu início à construção de uma nova capital, um projeto que buscasse, em seus movimentos arquitetônicos, um compromisso com a chegada do futuro que partia da Europa e, de trem ou pelo mar, abraçava o mundo. Essa nova capital recebeu o nome de Belo Horizonte.
Afonso Pena passou uns tempos no Senado, defendendo a ideologia destinada a estabelecer novos rumos à nação, direcionando-a aos trilhos da industrialização.
No ano de 1906, no mês de março, foi eleito presidente do Brasil, enfrentando um processo político amargo, doloroso, difamatório, ingênuo e infantilizado. Antes de assumir o cargo, planejou uma viagem pelo país, usando navios, estradas de ferro, barcos, ou qualquer meio de locomoção necessário e possível. Ninguém, na opinião de Afonso Pena, conseguiria liderar uma nação sem conhece-la em seus detalhes significativos; as angústias, as realidades, as necessidades, as potencialidades, os desencantos. A sua longa viagem pelas terras brasileiras estão documentadas nas cartas que enviava à sua esposa, amor de sua vida, Maria Guilhermina, com quem tivera 12 filhos. Em 1906, próximo do Estado do Ceará, à noite, escreve à Guilhermina usando, mais ou menos frases que fogem do contexto político: “Vejo a imensidão dos mares. Ouço a sinfonia da ópera O Guarani, aproximo-me, interiormente, do lirismo de José de Alencar e de sua Iracema. Meu pensamento voa para junto de ti. O meu ser mergulha na saudade, meus olhos lacrimejam; estou a seiscentas léguas de tua presença física, mas o meu coração, os meus pensamentos, os meus desejos, estão ao teu lado, dentro de casa, diante do nosso jardim.”
Assim que tomou posse, cumprindo o prometido em campanha, fez um empréstimo de 15 milhões de libras, para desencadear a entrada do Estado no mercado cafeeiro, buscando equilibrar o quadro econômico brasileiro, estancar o processo inflacionário, gerando empregos e capacidade de competitividade ao país. Essa atitude administrativa o levou à construção, ampliação, reforma da rede ferroviária nacional e, também, a união do país por meio de expansão do sistema de telegrafia, símbolo da modernidade da época.
A sua preocupação com a realidade que circulava pelo mundo, o conduziu à construção dos portos de Recife, Vitória e Rio Grande do Sul. No entanto, como sabemos que a política abre caminhos, tanto nos projetos concretos como nos abstratos, no objeto em si e na subjetividade que edificam o ser humano, Afonso Pena criou e aprovou a lei que estabelecia e estabelece 8 horas de trabalho por dia.
Na noite de 14 de junho de 1909, o presidente Afonso Pena deixou esse nosso mundo cheio de contrastes, confrontos, esperança e um pontinho de luz no final de um túnel qualquer.
Prof. Carlos Roberto Rodrigues