Em uma dessas noites, que nascem ao entardecer, eu e Adriana resolvemos unir os nossos sentimentos e, na brisa que embala o vento, fomos conhecer a Grécia dos tempos de Sócrates, Platão e Aristóteles, os criadores da filosofia, da busca pelo saber, enfim, os criadores do conhecimento ocidental.
Encontramos Aristóteles sentado numa espécie de banco de pedra, em uma praça pública. Naquele momento, usando um olhar próximo da alucinação, criava o primeiro estudo de lógica realizado por um homem; para não se cansar muito refletia sobre o rosto da Ética, o tipo de corpo e a sua necessária função; imaginava também os torneios que circulariam pela alma da política, as competições de ideias, a sabedoria regimental moradora na mesma casa onde, por descuido residia a burrice, filha politizada do cromossomo infeliz e que não se enquadrou no mundo dos acertos.
Percebemos, pelas curiosidades próprias, que o filosofo deu uma entrada na floresta da biologia a fim de verificar a vida em seu contexto mais puro. Aristóteles não era alto nem baixo, não se vestia com elegância, porém, não chegava a ser um representante do mau gosto pessoal.
Mesmo sendo um gênio, participante do início da vida acadêmica do mundo, as suas opiniões sobre as mulheres causaram-nos um profundo processo de desencanto intelectual. A mulher, um ser não considerado pela relevância da exatidão das definições, segundo o grandioso pensador, tinha menos dentes que os homens. Fato que atrofiava a fala, a linguagem, o discurso, prejudicando o desenvolvimento da inteligência feminina.
Aristóteles falou da temperatura sanguínea da mulher afirmando, não sabemos com base em que teoria, que o sangue da mulher era mais frio do que dos homens, fato que a afastava do convívio social, cultural, ético e político.
Aristóteles filosofava esses fatos com muita segurança, como se a Polis, criação do macho, via a mulher como um componente organizador do lar, da cozinha, da arrumação dos quartos. A mulher dentro desse mundo fechado, para ter direito a manifestar a sua vaidade, podia azeitar a pele do corpo, adoça-la com mel e orégano, elegância que criou o primeiro modelo da mulher pizza.
Nesse fragmento textual e cultural aconselhei a Adriana a não massacrar, à cacetada, o pai da filosofia. No entanto, entre idas e vindas, soubemos que Aristóteles casou-se, aos 37 anos com uma jovem chamada Pítias, de 18 anos, filha adotiva de um senhor chamado Hérmias.
Ele a amou, sentiu uma tara pelo seu corpo, pelo seu sexo, sorriso, fala, declarações amorosas sob as cobertas tecidas pelas lendas do Mediterrâneo. Ela engravidou no tempo em que as andorinhas fazem os seus ninhos.
Deu-lhe uma filha linda chamada Pítias, olhos azuis, como os esmaltes que pintam as unhas do céu. Sua filha tinha traços soberbos, andar nobre, voz encantadora, estudara os significados dos astros e, segundo dizem, muito parecida com o jardineiro da casa, um poeta aventureiro e apaixonado pelas mulheres que encantam a vida.
O segundo casamento de Aristóteles aconteceu quando, um de seus alunos descobriu as delícias do suco de groselha. Ele namorou e casou-se com uma tal de Herpiles, mulher forte, mais aproximada dos fenômenos afastados da beleza natural, tomava conta da casa como se fosse a Guerra de Tróia, que seria escrita e detalhada posteriormente.
Adriana, ainda revoltada com o pai da filosofia, traduziu o nome da segunda esposa do filósofo para o português, isto é, o nome Herpiles resultou no idioma de Camões, a palavra Hércules. Adriana não me disse nada, apenas sorriu e murmurou: “Ai tem, pode acreditar”.
O galo índio do filósofo Platão, vencedor de todas as rinhas realizadas em Atenas, morreu numa quarta feira, após luta feroz com o galo de Hérmes. Na verdade, sua morte foi causada por um problema cardíaco, pois o rei das rinhas apanhou tanto que, mesmo sem explicação, botou dois ovos. Aristóteles, procurando aumentar a tragédia faleceu no mesmo dia, hora, e na mesma Atenas.
A noite bateu a sua rede de pesca sobre as águas do mar; um pescador noturno cantou uma canção que falava do coração que dorme no interior do amor. Eu olhei a beleza dos olhos de Adriana, unimos nossos sentimentos, nossos espíritos, despedimo-nos da Grécia socrática, retornando ao Brasil e, somando o sonho de Atenas com sua Polis, reencontramos no Brasil o entendimento de sua política, sua minúscula inteligência, e o sabor de um pedaço de pizza devorado pelo Presidente do Brasil nas portas da ONU.
Prof. Carlos Roberto Rodrigues – professor de Literatura