O Maranhão possui uma beleza produzida pelos dedos dos anjos azuis; os primeiros protetores dos índios que moravam naquela região. Esses anjos corriam pela brancura das praias, agitando as suas asas azuis como o céu em dia de sol; cantavam, dançavam e ensinavam aos índios os sons nascidos na lua apaixonada pelo astro misterioso; esses sons, ao longo do tempo, transformavam-se em músicas compostas por notas com cheiro de eternidade.
O vento nascido na boca do mundo, nos lábios dos índios da tribo tupi-guarani batizaram o Estado, de norte a sul, com o nome de Maranhão, ou seja, “o mar que corre”, não sabemos o seu lugar de chegada, mas ao que tudo indica, seria um areal onde habita a esperança.
Nesse solo sagrado, o índio Aikanã apaixonou-se pela índia Borati, amor alimentado pelas flores que sempre nasceram no corpo do grande arco-íris, um atravessador das águas mágicas do rio Amazonas. O casamento aconteceu durante o reflexo da estrela. Criados por Eros, nas folhas dos coqueiros desejosos de carícias trazidas pelas abelhas saídas do olhar de psequê. O cacique que celebrou o casamento, um profeta gerado na força do saber, abençoou o amor, os filhos que nascerão no presente e futuro, preparando o casal para enfrentar o dia da destemperança. Esse dia do destempero, meus filhos, nascerá depois de milhares de lure, e será marcado pela visita de um presidente da república em nossa terra, mar e rios. O nome dele veio de longe, surgiu em uma terra embebida em velhas histórias; o que eu quero falar dá medo, arrepia um pouco, mas como índio guerreiro tenho que vestir a coragem e declarar: o nome dele é Bolsonaro. Vocês o reconhecerão por alguns detalhes específicos, o seu todo corpóreo é riscado pelas palavras: bobo, tonto, apalermado. O seu olhar demonstra uma grande capacidade de ser aloprado, desatenado, aluado. A sua boa é de mamados especializado, sabujo sobrando, samexungo assumido, sendeiro abobalhado. Ele tem pinta escuro de machão gaieiro, escondido, difuso, babaqueado, bocozado, lorecaço es estupidamente passivo.
Ao término do casamento, após a festança que correu por vários dias, o calendário disparou em desespero, ultrapassando dias, noites, semanas e, até, tempos que não foram registrados.
A projeção disparada através da boca dos tempos, estancou no ano de 1927, quando chegou ao Maranhão o farmacêutico chamado Jesus. Ele montou farmácia e um laboratório de pesquisa, num casarão colonial. Estudou o guaraná e todos os seus componentes nascidos no caldeirão das feiticeiras que habitavam o fundo do mar descansado. Desse trabalho desgastante nasceu a fórmula de um guaraná reparador das energias e de sabor indescritível. O farmacêutico o batizou com seu nome, isto é, Jesus. A cor da embalagem, por motivos de ordem científica e para não destoar da coloração do líquido, foi a cor-de-rosa, flor viva, poética, sensível. O produto conquistou o Maranhão, entrou em todas as casas, bares, restaurantes, as águas dos rios, os peixes e animais.
A Coca-Cola, bebida metida e com ares de primeiro mundo, comprou o refrigerante Jesus, mantendo porém, a sua cor de batismo.
Os descendentes do amor de Aikanã e Borati perceberam que, pelo movimento da lua, o dia da destemperança havia chegado, ou seja, o presidente Bolsonaro chegou em visita ao Estado do Maranhão. O povo tomou as ruas, as praças explodiram ao ritmo do corre-corre desenfreado da população.
O presidente subiu a escada de madeira e alcançou o palanque. O governador o saudou, elogiou e agradeceu a sua visita, entregando-lhe uma garrafa do guaraná Jesus, cor-de-rosa, marca da tradição histórica do Estado.
O presidente recebeu a garrafa e sorrindo, fato conhecido e idiotizado, disse: “Agora virei boiola igual ao maranhense, é isso? Olha o guaraná cor-de-rosa do Maranhão, aí, ó! Quem toma esse guaraná aqui vira maranhense, hein? Guaraná cor-de-rosa do Maranhão…Que boiolagem isso aqui”.
Sua fala abalou a lenda da serpente adormecida que cresce aos poucos. A cabeça fica cabeça do Ribeirão e a cauda embaixo da Igreja de São Pontes Leão. Assim, no dia em que a cabeça encontrar a cauda o animal despertará. Com a piadinha sem graça do presidente, a serpente acordou. Meio tonta, mas revoltada, subiu a escadaria do palanque; aproximou-se do presidente, colocou a cabeça na barra da calça do excelentíssimo e destacado político, desaparecendo misteriosamente.
Desse fato incompreensível, nasceu outra lenda descompromissada da realidade histórica; dizem que a partir desse acontecimento, Bolsonaro tornou-se um político entupido, nem camarão encontra passagem pelos canais normais, dependendo sempre do fórceps ou cesárea.
Prof. Carlos Roberto Rodrigues