Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes, conhecida como Irmã Dulce, foi uma freira soteropolitana nascida em 1914. Desde jovem, demonstrou apreço e cuidado pelos menos favorecidos e, principalmente, pelos doentes. Ainda pequena, pedia autorização dos pais para trazer pessoas adoentas para a própria casa, a fim de cuidar deles.
Conhecida como anjo bom da Bahia, Sempre rezava muito a Santo Antônio, pois tinha dúvidas se devia se casar ou virar freira. Optou pelo segundo caminho, juntando-se ao famoso Convento de Santa Clara do Desterro.
Em sua vida, buscou fazer muito por aqueles que não tinham condições, através de sua entidade filantrópica: a Obras Sociais Irmã Dulce. Foi responsável pela abertura do Hospital Santo Antônio e do Centro Educacional Santo Antônio. Sabia da importância de promover a formação cultural das pessoas.
Foi indicada pelo presidente José Sarney ao Nobel da Paz em 1989 e sua extrema unção foi dada pelo próprio Papa João Paulo II. Em outubro de 2019, será oficialmente declarada santa pelo Papa Francisco I.
Santa dos pobres: a canonização da irmã Dulce
Marcado para outubro, o processo reconhecerá a primeira santa nascida no Brasil. Entretanto, ainda existe um longo caminho para ser percorrido
A Igreja Católica é a instituição mais longeva da História. Fundada por São Pedro ainda no Império Romano, pouco tempo após a morte de Jesus Cristo, no século 1, ela perdura até hoje, dois milênios depois.
Com tanto tempo de estrada, seria anacrônico esperar que a Igreja tivesse visões progressistas acerca de diversas problemáticas que permeiam a nossa sociedade. A participação da mulher, por exemplo, ainda é extremamente limitada, apesar de diversos avanços e conquistas de caráter emancipatório já tenham sido feitos pelo sexo feminino no campo social. No Catolicismo, mulheres ainda não podem ministrar missas, por exemplo.
Por estranho ou contraditório que pareça, o processo de beatificação e de canonização sempre aceitou mulheres. Entretanto, apenas 21% das pessoas alçadas oficialmente ao status de Santo em toda a história são do sexo feminino.
Em outubro de 2019, o Papa Francisco I, que tem sido reconhecido — positivamente ou negativamente, dependendo do referencial — por suas visões modernas, permitirá a entrada de quatro mulheres nesse seleto panteão. Uma delas, inclusive, é brasileira.
Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes, conhecida como Irmã Dulce, foi uma freira baiana que, desde jovem, demonstrou uma generosidade ímpar, principalmente com os doentes. Foi responsável por inúmeros projetos e instituições filantrópicas que cuidavam da saúde ou da formação cultural e social dos menos favorecidos.
Devota de Santo Antônio, criou o Hospital e o Centro Educacional que carregam o nome do santo casamenteiro e, até hoje, atendem centenas de pessoas diariamente em Salvador.
Na década de 80, recebeu a benção do Papa João Paulo II na primeira visita do Pontífice ao país e foi indicada pelo então presidente José Sarney, em 1989, ao Nobel da Paz. Pouco tempo depois, sua saúde começou a falhar e, em 1992, veio a falecer em decorrência de problemas respiratórios.
O mesmo Papa deu-lhe a extrema unção e, em 2000, distinguiu-a como Serva de Deus, iniciando seu processo de canonização que terminará em Outubro com a oficialização de seu título de santa.
Irmã Dulce será a primeira santa nascida no Brasil. Madre Paulina, canonizada em 2002, foi radicada por aqui mas nasceu na Itália. Mesmo com a adição dela e outras três mulheres a esse rol, a discrepância seguirá firme. Dentre os santos não-anônimos, são 835 homens contra 226 mulheres.
Afinal, são séculos de um domínio patriarcal na sociedade e a Igreja Católica possui relação intrínseca e simbiótica, vindo dele e ajudando a fomentá-lo. Os apóstolos eram todos homens, mesmo com Jesus possuindo uma infinidade de seguidoras extremamente fiéis a Ele.
Às mulheres, ficaram renegados os papéis que lhes eram classicamente atribuídos. Biblicamente, apareceram nas formas de duas famosas Marias: a Madalena, prostituta, e a Virgem, mãe. São diametralmente opostas no que toca à pureza ou algo assim, mas iguais no que diz respeito à subserviência ao homem.
É obviamente mais difícil uma mulher chegar ao ponto de ser reconhecida como santa — a própria Maria Madalena, uma das maiores devotas de Cristo e presente, inclusive, aos Seus pés no Calvário, entrou para a história apenas como uma meretriz — se, por séculos, teve que existir toda uma luta para que ela fosse sequer reconhecida como um ser humano com direitos básicos e vontades próprias. O léxico da primeira máxima do Estado de Direito não é à toa: todos os homens — não todos os humanos ou todas as pessoas, mas os homens — são iguais perante a lei.
A luta do feminismo avançou muito a participação da mulher em todos os setores da sociedade, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido. Resta saber se a bênção do Espírito Santo iluminará a Igreja Católica para que ela acompanhe os passos da história.