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quinta-feira 31 outubro 2024
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In Tempore – Reciclagem de tecidos

Em todo o mundo são produzidos, anualmente, 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis. O problema do lixo têxtil começa já na fabricação das roupas, principalmente na fase de corte do tecido. E o problema não para por aí.
Em 2018 uma empresa britânica fabricante de roupas de luxo decidiu, literalmente, queimar produtos não vendidos. O estoque incinerado estava avaliado em aproximadamente 28,6 milhões de euros. A notícia, divulgada inicialmente pela mídia britânica, teve repercussão mundial e evidenciou uma das práticas mais questionáveis da indústria têxtil: a incineração de produtos que poderiam ser reutilizados, reciclados ou mesmo doados. A marca britânica se viu pressionada a mudar para atender um mercado cada vez mais exigente e resistente a produtos e iniciativas não sustentáveis, e informou que já reutiliza, conserta, doa e recicla produtos que não foram vendidos.
Assim como acontece com diversos outros materiais, reciclar resíduos têxteis é uma opção muito importante para a economia circular, mantendo os materiais têxteis no ciclo produtivo da indústria. Utilizar resíduos têxteis como fonte de matéria-prima para processos que usam a regeneração de celulose alivia o uso de recursos virgens que podem estar relacionados ao desmatamento, esgotamento do solo e uso de agrotóxicos. É urgente estimular a reciclagem e inserir novamente na cadeia produtiva aquilo que seria descartado e transformado em rejeito, em poluição para o planeta.

No Brasil temos alguns exemplos de indústria de fibras têxteis recicladas.

Uma empresa iniciou em 1952 a sua atividade na limpeza de algodão com destino às fiações, e atualmente participa da cadeia de valor têxtil, produzindo fibras recicladas a partir de resíduos têxteis de pré-consumo, que são desperdícios resultantes da produção industrial, e também de pós-consumo, fechando o ciclo da indústria têxtil, pois se não fossem reciclados esses resíduos seriam incinerados ou enviados para aterros sanitários. Outra empresa iniciou sua história em 1988 com a produção de estopas para limpeza; atualmente as sobras de tecidos e fios gerados pela indústria de fiação, tecelagem e confecções de roupas são transformadas em novos produtos, agregando os processos de transformação dos resíduos, chegando à produção de desfibrado têxtil e enchimento ecológico.

Na França há uma agência de design de referência na área da reciclagem têxtil, transformando roupas descartadas em uma matéria-prima inovadora; com base nas características dos tecidos recuperados, ela projeta um material de construção ecológico e de design, que é isolante térmico e acústico. Diariamente resíduos têxteis são transformados em tijolos de diferentes formas e cores, e essa tecnologia pode ser adaptada a todos os tipos de têxteis. Para se ter uma ideia da quantidade de resíduos têxteis utilizados, para a construção de uma mesa lateral de 22 x 52 x 42 cm são utilizados 4,8 kg de tecido reciclado.

VOCÊ SABIA?

A partir de 2027, empresas que fazem negócios com qualquer um dos 27 países da UE precisarão provar que seus fornecedores respeitam direitos humanos e meio ambiente. O parlamento europeu aprovou na última semana uma lei que obriga companhias de todos os setores da economia que fazem negócios com a União Europeia a verificação de suas cadeias de valor.

Denominada como Diretiva de Due Diligence de Sustentabilidade Corporativa, a lei engloba desde a extração da matéria-prima à distribuição, venda e marketing do produto ou serviço final, e implica na necessidade de adoção de indicadores ambientais, sociais e de governança (ESG), sobretudo no que diz respeito a violações de direitos humanos e do meio ambiente.