A banda tocou no telhado da Apple Records em Londres, não sabendo que aquela seria a última vez
Em 1969, boatos sobre os Beatles corriam pelo mundo. O rumores diziam que a banda encontrava problemas e que seus membros estavam discordando mais que o normal nas resoluções do grupo. Isso tudo acontecia nos bastidores, embora, na fachada, as coisas parecessem normais.
No começo daquele ano, em 30 de janeiro, os Beatles decidiram fazer um show especial no telhado do prédio da Apple Corps em Londres, Inglaterra. Ele aconteceu há exatos 52 anos e ficou conhecido por ter sido o último concerto em que os membros da banda tocaram juntos — embora eles ainda não soubessem disso na época.
Após quase três anos fora dos palcos, eles voltaram com estilo, fazendo o show no topo do edifício que abrigava a empresa da banda e sua gravadora. Mas, depois de tantos anos, ainda não se sabe de quem foi a ideia. Para o tecladista Billy Preston, que tocou com eles naquele dia, a iniciativa veio de John Lennon.
Ainda assim, há quem diga que a decisão foi coletiva, baseando-se em depoimentos conciliatórios de Ringo Starr em entrevistas, e Glyn Johns, engenheiro de som conhecido por ter trabalhado com a banda, já afirmou que quem deu a sugestão inusitada foi ele. De qualquer forma, tornou-se história.
O show
Mas porque os icônicos Beatles decidiram fazer um show a céu aberto, com pouco auxílio técnico? Essa ideia, na verdade, já era um desejo dos artistas mesmo antes da decisão de fazer uma apresentação. Eles queriam mostrar para o público uma produção que mostrasse seus processos criativos, sem recursos usados em estúdio.
“Fomos ao telhado para resolver a ideia do show ao vivo, porque era muito mais simples do que ir a qualquer outro lugar; também ninguém nunca fez isso. Então seria interessante ver o que acontecia quando começamos a tocar lá. Foi um bom estudo social”, explicou George Harrison mais tarde.
O último concerto dos Beatles teve menos de uma hora de duração — o tempo exato foi de 42 minutos. Tratava-se de um show quase improvisado, que havia sido anunciado apenas na noite anterior e chegou como uma surpresa para muitos dos trabalhadores da empresa e, principalmente, para os fãs.
“Algumas das pessoas no escritório da Apple nem tentaram subir, porque era mesmo apenas mais um dia de trabalho”, contou Ken Mansfield que, na época, era o gerente norte-americano da gravadora à Rolling Stone USA.
“Aconteceu de eu estar trabalhando no escritório naquela semana”, disse. “E Mal [o roadie da banda, Mal Evans] apenas disse: ‘Ei, vamos lá, Ken, vamos subir em 15 minutos’. Eu disse: ‘O que você quer dizer? ‘ Ele disse: ‘Nós estamos indo para o telhado, venha junto’.”
Estava muito frio em Londres quando John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr subiram ao palco improvisado no topo do edifício. Por volta do meio-dia, eles começaram a tocar, repetindo algumas músicas ao longo do curto show, que contou com uma setlist de apenas cinco músicas.
O público também era pequeno: apenas membros da família dos artistas, incluindo Yoko Ono, a esposa de Lennon, e Maureen Starkey, mulher de Ringo, amigos, a equipe técnica do show e de câmeras, e algumas pessoas que trabalhavam em prédios próximos e subiram rapidamente para seus respectivos terraços. Na rua, era possível escutar os sons, mas não era possível saber sua origem.
O show foi tão improvisado que até mesmo meias-calças foram necessárias para minimizar o ruído do vento nos microfones. Em entrevista à Guitar Player, o engenheiro Alan Parsons contou: “Entrei em uma loja de departamentos e disse: ‘Preciso de três pares de meias-calças. Não importa o tamanho’. Eles pensaram que eu era um ladrão de banco.”
Embora tenha sido uma surpresa e feito em uma espécie de ‘gambiarra’, a apresentação chamou a atenção da polícia de Londres, que decidiu intervir, alegando que a performance estava causando um tumulto.
Com a interrupção, os cantores perceberam que estava na hora de parar e, antes de descer do palco, John Lennon disse no microfone: “Eu gostaria de agradecer em nome do grupo e de todos nós e eu espero que tenha passado na audição”.
Segundo o historiador Mark Lewisohn, especialista na banda, “tudo funcionou”. “Estava tudo certo com os Beatles”, disse em entrevista ao Washington Post. O que aconteceu depois foi história, a qual estamos todos familiarizados: em 1970, os Beatles chegavam ao fim, ainda como uma das mais importantes bandas da história.