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segunda-feira 23 dezembro 2024
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Herculano Pires em 3 Momentos

• Gerson Sestini – Rio de Janeiro/RJ
Considero J. Herculano Pires, – “o metro que melhor mediu Kardec” – segundo informou Emmanuel, como meu grande mestre de Espiritismo. Conhecia-o por leituras de seus livros e artigos. Uma noite, em meados da década de 60, estando eu ministrando aulas num colégio da Vila Madalena, em São Paulo, a diretora avisou-nos, no intervalo das aulas, que as interromperia e reuniria as turmas para uma palestra de um jornalista e parapsicólogo que visitava nosso estabelecimento, hoje afortunadamente, reconhecido como a melhor escola estadual da capital, o “Carlos Maximiliano P. dos Santos”.
Reunimo-nos no auditório e recebemos o expositor que era nada menos que Herculano Pires. Sua presença despertou grande interesse nos alunos que logo se simpatizaram com ele. Falou então sobre Rhine e as experiências parapsicológicas que se faziam. Uma delas era sobre telepatia, com participação de cientistas da extinta União Soviética, contando com receptores que recebiam mensagens em submarinos debaixo da calota polar, tirando a possibilidade de qualquer tipo de onda eletromagnética chegar até eles. Questionado depois por um aluno sobre os estranhos efeitos do LSD no ser humano, em voga no momento, explicou suas ações e aconselhou-o, como que antevendo seu oculto desejo: “Cuidado, jovem! Se você pretende experimentá-lo por conta própria, poderá dar-se mal! Certas pesquisas precisam contar com objetivos sérios, contar com equipe de pessoas qualificadas e, sobretudo, voltadas ao bem.” Os alunos ficaram entusiasmados e cativados com as variadas notícias sobre a nova ciência que tomava impulso. Não se falou em Espiritismo porque não era o objetivo ali.
Em outra ocasião, passando pela cidade de Marília, soube que Herculano estaria presente num evento espírita na cidade. Para lá rumei em companhia de amigos. Era um simpósio no qual acabei sendo apresentado ao mestre num dos intervalos. Na época, algumas dúvidas sobre o processo da reencarnação serviram de pretexto para abordá-lo, pois tinha lido em obra de Gabriel Delanne que é o espírito reencarnante quem propicia a vida na concepção e faz desenvolver o feto com suas energias. Porém, em “O Livro dos Espíritos”, encontrei a afirmação da possibilidade de se formarem corpos de crianças sem espírito (Questão 356). Então indaguei: haveria naquela contradição algo que mostrasse erro naquele livro básico da Codificação? Olhando-me firmemente, o mestre disse-me: “A Revelação Espírita permanece válida em todas as afirmações encontradas nas obras básicas; não duvide, porque nenhuma delas está ultrapassada, pois foram coordenadas pelo Espírito da Verdade.” Aconselhou-me para que fosse pesquisar, porque haveria uma explicação que não lhe ocorria no momento. Sua convicção, vigorosa e enfática, impressionou-me levando-me a aprofundar mais meu respeito a Kardec. De fato, mais tarde, encontrei na obra “Evolução em Dois Mundos”, 2ª parte, cap. XIII, André Luiz explicando o que “O Livro dos Espíritos” afirmava: “Em todos os casos em que há formação fetal, sem que haja a presença de entidade reencarnante, o fenômeno obedece aos moldes mentais maternos”. Dava como exemplo, mulheres inconformadas por não poderem engravidar-se, atuando psiquicamente sobre células germinativas, que não os gametas, energizando-as para criar o corpo de uma criança que, depois de formado, fatalmente morreria ao nascer, pela ausência da entidade espiritual que lhe daria vida.
Em outra ocasião em que vi o mestre foi numa palestra, num domingo pela manhã, na Federação Espírita do Estado de São Paulo (FEESP). Era meados da década de 70 e o filme “O Exorcista” fazia carreira com cinemas lotados, exibindo cenas de pessoas que saiam deles aterrorizadas, passando mal, carregadas e atendidas por ambulâncias que se postavam nas proximidades. Herculano falou, pois, sobre este filme: contou sua verdadeira história, a ação nefasta das falanges das trevas inutilizando as tentativas de se exorcizar culminando com a morte de padres que se prestaram a realizar aqueles arcaicos rituais, desprovidos de proteção por não contar com o amor ao próximo, bem como dos percalços que tiveram durante a filmagem, a qual contou também com mortes e acidentes.
No final da eletrizante explanação, o dirigente da palestra fez rasgado elogio ao orador, dizendo ser ele a maior autoridade espírita que tínhamos no Brasil. Herculano, que já estava se retirando retorna, toma o microfone e dá um recado: “É assim que agem os obsessores.”