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quinta-feira 28 novembro 2024
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GPS – Vidas Secas

Através de uma visão distanciada, três são os conjuntos de sofrimentos impetrados aos povos no Brasil.
Um deles é referente à dizimação das populações indígenas, que tem ocorrido nos últimos cinco séculos.
Além das populações indígenas, milhões de africanos se transformaram em escravos no Brasil.

Um pouco diferente é o que habitantes da região Nordeste passam durante o período das secas.
Os estados nordestinos, localizados próximos à linha do Equador, são escassos em rios e em chuvas.

O livro Vidas Secas pode simbolizar o sofrimento dos “Retirantes” que vivem quase como nômades em busca de água e alimentos.
Os Estados do Nordeste, de uma maneira geral, dispensaram muitos recursos da esfera federal a partir dos anos 50, incluindo a SUDENE.
A transposição do Rio São Francisco pode significar a derrota das políticas nacionais no sentido de trazer mais água para o Nordeste.

O problema da seca aflige também os animais.
Graciliano entrelaça o flagelo dos “Retirantes” com o sacrifício animal por três vezes durante o desenvolvimento do texto, que aliás, possui capítulos independentes.
Fabiano, Sinha Vitória, Menino mais velho, Menino mais novo e a cachorra Baleia caminham tristemente, após a morte do Papagaio, que também era considerado um membro da família.

O Papagaio fora morto na véspera para poder alimentar os “Retirantes”. A personificação do Papagaio foi a forma que o escritor utilizou para dividir o sofrimento com os leitores.
O sonho de Sinha Vitória em ter uma cama com a cabeceira em couro pirogravado pode ser considerado um eufemismo para a relação insolúvel entre os “Retirantes” e os animais.

Mais triste, um imagem das mais trágicas da Literatura Brasileira, diz respeito à morte da Baleia. Neste momento, a personificação e a desilusão atingem o ponto culminante da narrativa.
Impossível não se curvar frente ao sofrimento dos “Retirantes” e dos animais.

Com certeza, se o período das secas tivesse sido abordado cientificamente, o Nordeste estaria em uma situação ambiental mais promissora.
Inobstante, na vigésima quinta hora, programas de monitoramento de fauna e flora prometem garantir mais biodiversidade.

“Vidas Secas” é a obra com mais simbolismo do escritor moderno Graciliano Ramos. O livro, que pode ser classificado como romance documental, foi publicado em 1938.

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José Alencar Galvão de França
Graduado em Direito pela USP, especialista em Direito Romano pela Universidade de Roma “La Sapienza” e especialista em Gestão de Projetos pelo Programa de Educação Continuada da Escola Politécnica.