A Holanda, ainda durante o Ciclo da Cana de Açúcar, trouxe da África mudas de café para a Guiana Holandesa, que logo alcançaram a Guiana Francesa.
O cultivo do café acessou o território brasileiro através da Guiana Francesa. Primeiramente, a Capitania do Grão-Pará, mas foi a partir da Província do Rio de Janeiro que conquistou a economia nacional. Da Baixada Fluminense, o café cerrou fileiras e procedeu uma marcha florescente, deixando um rastro de perfume nas plantações e nos fogões à lenha. Substituiu grande parte de mata nativa, mas ao transpor rio acima, preencheu as colinas do Vale do Paraíba por mais de um século. Desde então, é um símbolo nacional.
Se houve Império no Brasil, o café foi um dos titulares. Próximas à sede da Corte, pouco mais de quinze cidades fluminenses detiveram 75% da produção de café entre 1840 e 1850. Na mesma época, o café alcançou a região paulista mais próxima à cidade do Rio de Janeiro.
As primeiras cidades paulistas a cultivarem novas plantações ocupavam uma vasta porção de terras, aninhadas entre montanhas: as cidades do Fundo do Vale, também conhecido como Vale Histórico possuem grandes extensões e preservam uma memória significativa da vida cafeeira do século XIX.
São José do Barreiro, Arapeí, Bananal, Areias, Silveiras e Queluz são testemunhos de um período que guarda reminiscências relevantes do que pode ser compreendido como tributário de parte considerável do ideário nacional. Não existe região que guarde uma proximidade tão grande com o período áureo do café, distante quase 150 anos.
Bananal foi considerada a cidade mais próspera da Província de São Paulo entre 1840 e 1870. São José do Barreiro, importante cruzamento das trilhas dos tropeiros é o portal de acesso ao Parque Nacional da Serra da Bocaina.
Além da memória, guardada pelo patrimônio arquitetônico, o cenário é composto de extensa área rural, emoldurado pela presença das serras da Mantiqueira e da extensão da Serra do Mar denominada Serra da Bocaina.
A preservação do Vale Histórico é consequência da marcha do café rumo ao Oeste, o que desaqueceu a economia da região e também devida à sua situação geográfica: distante do Rio de Janeiro e da cidade de São Paulo, não sofreu influências da urbanização e industrialização do século XX.
Adormecidas por várias décadas, as cidades do Vale Histórico têm renascido com a valorização da vida rural. A região possui extensas áreas verdes, faz parte do cinturão do leite do Vale do Paraíba e desperta não somente no campo, como nas cidades, interesse pela História Nacional. Presenciou o apogeu do Império e o final da escravidão no Brasil.
Atualmente, o Vale Histórico mantém tradições que remontam ao Período Colonial, através de festividades religiosas, costumes, culinária. Possui tradições culturais e memória seculares, oferece uma qualidade de vida inigualável aos seus moradores e propicia aos visitantes muito mais que uma imersão turística: uma conexão entre passado e presente.
Viagens da minha terra é um romance histórico entrelaçado com relato de viagem escrito por Almeida Garrett em 1846.
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José Alencar Galvão de França