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quarta-feira 25 dezembro 2024
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GPS – Urbanismo

Berlin, quase totalmente destruída no final da Segunda Guerra Mundial, é uma cidade que tem como missão recente, não apenas renascer, mas protagonizar a vanguarda da Arquitetura e Urbanismo.
Tendo como ponto de inflexão o ano de 1945, símbolos da cidade como Alexander Platz e Potsdamer Platz infelizmente reduzidos às cinzas, quarteirões e bairros inteiros arrasados, a urbanização advinda não se preocupa e não consegue trazer de volta o “Ar de Berlin”.

Há uma espécie de desconexão entre as quadras, como se vazios ficassem definitivamente irrecuperáveis. Não há também a ideia de reconstruir ou urbanizar como se nada tivesse acontecido.
Esquartejada com a divisão da cidade em quatro setores no Pós-Guerra, Berlin, vítima do Nazismo se tornou refém do Comunismo. O golpe final foi resultado da construção do Muro que isolou os três setores do lado ocidental da Berlin Oriental a partir de 1961 até 1989.

O setor ocidental foi transformado em uma ilha isolada, totalmente separada da Alemanha Oriental, com poucos acessos, extremamente vigiados pela URSS, sendo o mais famoso o Checkpoint Charlie.
A Avenida Unter dem Linden, eixo monumental que tem início no Portão de Brandenburgo manteve apenas o seu traçado. E as Tílias. Nesta região há uma preocupação em preservar a volumetria das edificações. Uma ou outra edificação na vizinhança nos traz a impressão de estarmos na Roma Imperial, o que nos faz lamentar ainda mais o poder de destruição das guerras.

A Ilha dos Museus, provavelmente intencionalmente por todos os participantes do conflito armado, foi preservada.
A Porta de Ishstar dos Jardins Suspensos da Babilônia, salva incólume, permanece dentro do Museu de Pérgamo.
Inconscientemente ou não, com a reabertura do Portão de Brandenburgo que remete ao passado, à ligação dos dois setores da cidade, ao TIergarten, parque central, e à Avenida Unter dem Linden, Berlin parece ter descoberto uma nova vocação: ampliar as áreas verdes.

Como se a Porta de Ishtar se transformasse em uma metáfora para ampliar e transcender o significado da reabertura do Portão de Brandenburgo e do Checkpoint Charlie.
Resgatada a alma e unidade da cidade, simbolicamente, Berlin ensaia encontrar novos rumos.
Hoje, os parques são interligados para que animais silvestres possam viver e transitar com mais segurança. O novo traçado ensina um novo urbanismo imposto pelas áreas verdes e se sobrepõe ao antigo tecido urbano com razoável desenvoltura.

Impossível recuperar totalmente as construções do passado, a cidade restaura as ruínas do Kaiserdom, catedral e monumento à reflexão. A nostalgia se torna ainda mais forte e mais triste.
Berlin procura nos hiatos da ausência e da destruição se incorporar ao solo, ao clima, à natureza enfim, como um eixo verde a interligar os campos do entorno.

Urbanismo é o título de um livro escrito pelo arquiteto Le Corbusier em 1925.

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José Alencar Galvão de França