O título do livro mais conhecido do estadista britânico Sir Winston Spencer Churchill faz referência ao discurso mais importante do século XX.
Churchill proferiu o discurso “Sangue, Suor e Lágrimas” em sua posse como Primeiro Ministro na Câmara dos Lordes em 13 de Maio de 1940:
“Só tenho para oferecer sangue, sofrimento, lágrimas e suor. Temos perante nós uma dura provação. Temos perante nós muitos e longos meses de luta e sofrimento”.
Parece que os grandes discursos possuem uma certa genealogia e com Churchill, comparações são irresistíveis e remontam a quem é considerado o maior orador do Ocidente: Marco Túlio Cícero.
Um dos dois cônsules eleitos para o ano de 63 a.C., juntamente com Caius Antonius, durante seu mandato, Cícero conseguiu interromper a conspiração liderada por Catilina para tomar o poder em Roma.
Catilina, tendo perdido a eleição para o Consulado, planejou o assassinato de Cícero e com o auxílio de tropas estrangeiras tinha como objetivo derrubar o governo romano.
Cícero proferiu como Cônsul quatro discursos contra Catilina. Para cada um escolheu um local emblemático. O primeiro foi proferido no Templo de Júpiter Stator, próximo ao Rio Tibre. Aí reside a coincidência: tanto Cícero quanto Churchill tiveram como intenção demonstrar coragem e temperança em seus discursos de uma certa forma inaugurais de combate ao conflito que se aprofundava.
Stator significa algo como “permanente”, “que permanece”. E Churchill profere na Cãmara dos Comuns um discurso simples e curto de forma a valorizar a presteza e liderança. Com a participação de representantes de todos os partidos, propõe união e coesão para chegar à vitória, solitária alternativa para a sobrevivência dos valores elevados que naquele momento a preservação dele dependiam.
Cícero proferiu o quarto discurso no Templo da Concórdia, situado próximo ao Capitólio Romano, com intenção de unidade e pacificação.
Cícero é considerado pelos Iluministas o verdadeiro tributário das ideias que ressurgem durante o Renascimento e dirige a oratória até nossos dias.
Churchill é sempre lembrado nos momentos em que temos que enfrentar contra situações que se transformam em conflitos que poderiam ser evitados, tais como acontece com a invasão da Ucrânia.
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José Alencar Galvão de França
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