A Bahia ofereceu seu território para que fosse cenário dos livros entre os mais significativos da literatura brasileira.
Do Pré-Modernismo, Euclides da Cunha lança um relato impressionante sobre a Guerra de Canudos. Do Modernismo, “Grande Sertão: Veredas” de Guimarães Rosa oferece uma obra emblemática na criação de neologismos e “Capitães da Areia” de Jorge Amado, realça a cidade de Salvador.
Euclides da Cunha nasceu no Rio de Janeiro, onde estudou na Escola Politécnica e na Escola Militar da Praia Vermelha. No início da República trabalhou como correspondente do Jornal “A Província de São Paulo”, atual “O Estado de São Paulo” e quase simultaneamente trabalhou na Superintendência de Obras do Estado de São Paulo por mais de sete anos.
Euclides da Cunha veio para o Vale do Paraíba em 1902, como chefe do 2º Distrito de Obras Públicas do Estado de São Paulo, que tinha sede em Guaratinguetá. Morou em Lorena entre 1902 e 1903. No Vale, o escritor e engenheiro civil trabalhou em muitas obras como pontes, estradas e escolas.
Construiu a Ponte Metálica do Rio Piracuama, em Pindamonhangaba e a Escola Flamínio Lessa em Guaratinguetá, ambas em excelente estado de conservação. Outras obras, não existem mais ou não foram devidamente preservadas, como a Ponte Metálica sobre o Rio Paraíba em Guaratinguetá.
Tendo conhecimento de um geógrafo e cultura de um renascentista, foi o correspondente do Jornal “A Província de São Paulo” para cobrir a Guerra de Canudos, onde ficou até quatro dias antes do ataque final das tropas republicanas.
A universalidade do relato de Euclides da Cunha decorre da visão de jornalista, geógrafo e humanista.
O aspecto humanista alinha “Os Sertões” entre outros relatos célebres da literatura mundial como “93” de Victor Hugo, publicado em 1874 sobre a Revolta de 1793 dos camponeses católicos das regiões do Rio Loire e Bretanha contra a Revolução Francesa.
Não só. O texto chega a oferecer ao leitor e à História Universal uma visão de Canaã ou Jerusalém ao Arraial de Canudos, cidade constituída por casas de taipas no sertão da Bahia.
A Guerra de Canudos foi incompreendida na época e foi divulgada como uma rebelião monarquista comandada por Antônio Conselheiro. Euclides da Cunha percebeu o engano e transformou a opinião oficial ao constatar in loco a miséria dos habitantes desassistidos pela recém proclamada República e massacrados covardemente pelas tropas militares.
Canudos começou a ser povoada em 1893, próxima ao Monte Santo, onde abrigava cerca de 25.000 seguidores na época do massacre.
Na nota preliminar de “Os Sertões”, Euclides da Cunha assume que a vocação inicial de sua obra seria a de escrever exclusivamente sobre o conflito em Canudos, porém o contexto transformou o relato em um ensaio antropológico, sociológico e cultural do sertão do Brasil.
O acontecimento em Canudos ressurge em outras tragédias do século XX como os massacres dos Armênios pelo Império Otomano, antes da Primeira Guerra Mundial e a destruição do Gueto de Varsóvia por Hitler, durante a Segunda Guerra Mundial.