Muito extensa e com grande superfície, a Lagoa dos Patos pode ser considerada um lago de passagem, ou seja, prolongamento dos rios que ali desaguam em um amplo sistema de estuário. Consequentemente, a região de Porto Alegre e das demais cidades da laguna podem estar dentro da área de oscilação da capacidade receptora de águas da região.
Porém, um fenômeno tão intenso quanto o que irrompeu no Rio Grande do Sul possui intercorrelações em várias outras esferas.
Uma delas diz respeito ao aquecimento dos oceanos, notadamente do Pacífico, que influencia o regime de chuvas e calor na América do Sul, desde Dezembro até o final de Abril.
Segundo, existem corredores de rios aéreos na região da Amazônia que estão sendo afetados pelo desmatamento.
Terceiro, o avanço das monoculturas no Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Paraná. Adicionalmente, o Rio Grande do Sul já possui problemas relacionados à erosão há décadas, não resolvidos, além de monoculturas e pastos que fazem com que o solo fique quase impermeável.
Assim como tem acontecido na Europa, o Brasil terá que encontrar uma solução para a coexistência de árvores, pastos e monoculturas e limitar o tecido urbano.
Inobstante, parece que todas as causas são insuficientes para explicar índices pluviométricos jamais registrados. Vem daí, uma quase aleatoriedade no encontro de frentes frias do Polo Sul que não conseguiram avançar. O Litoral Norte de São Paulo, por exemplo, está há duas semanas sem chuvas.
Por um lado, estudos para previsão e gerenciamento das alterações climáticas e seus impactos deverão ser mais especializados e com a necessidade de intervenções que possam manter os territórios habitáveis. Por outro lado, frente à atual realidade, teremos que otimizar os recursos de defesa civil existentes.
Ficamos perplexos não somente com as notícias trágicas, mas também com um fator novo que somente havíamos vivenciado em territórios pouco urbanizados como Amazônia e Pantanal que sofreram com secas nos últimos anos.
O fator novo pode ser dividido em duas partes: o lento escoamento das águas da bacia da Lagoa dos Patos e a incapacidade de orquestração entre as órbitas governamentais.
Não era de se esperar Forças Armadas mais atentas e mais preparadas para auxiliar a população? Não era de esperar uma implantação de uma central de logística?
Enquanto isso, nossas cidades poderão efetuar planos para enfrentar riscos decorrentes dos eventos climáticos em seus orçamentos, que deverão contemplar previsão, comunicação, alarmes e socorros.
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José Alencar Galvão de França, especialista em Gestão de Projetos, Programa de Educação Continuada da Escola Politécnica
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