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domingo 17 novembro 2024
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GPS – O Ano Passado em Marienbad

Um dos filmes mais enigmáticos do cinema, “O Ano Passado em Marienbad” se multiplica em leituras pela simplicidade do roteiro e não por qualquer complexidade.
A película abre a quarta parede logo no início e a partir daí, dirigimos a câmera e vivemos uma situação de sonho ou lembrança em um palácio barroco alemão transformado em hotel no período do pós-guerra.

A fotografia em preto e branco fortalece a ideia de uma organização e de segurança em contraponto ao roteiro. A fotografia oferece tudo: ângulos, contrastes, percursos, quadros, esculturas, jardins geométricos.
A primeira contribuição para a imaginação é a possibilidade do que poderia ter existido sem a guerra: um vazio existencial, um quase nada, que assim mesmo seria preferível à destruição.

Teria sido no ano passado? Em Baden Baden ou em Marienbad ? Não importa. A resposta abre a possibilidade para o infinito.

Os poucos personagens são inominados. E o filme é narrado em terceira pessoa como se fosse o alter ego de um dos personagens.

Nunca mais houve um filme tão onírico, quase sonolento mesmo. O filme é cíclico e pode parecer uma busca. Talvez a possibilidade do amor, da beleza no espaço do pós-guerra, seja a mais completa leitura, representada pela atriz Delfine Seyrig.

Um dos dois personagens masculinos é inspirado em um herói de HQ. Completa aqui a intertextualidade que multiplica a obra em significados: teatro, HQ, pós-guerra, arquitetura, pintura e esculturas que se movimentam em um único e definitivo gesto.

Porém, o resultado é minimalista e não exige nada ou muito pouco do expectador.
O roteiro foi baseado em um romance do escritor Alain Robbe-Grillet. O filme foi dirigido por Alain Resnais, que já tinha feito um trabalho semelhante com Marguerite Duras.
O filme “L’Année dernière à Marienbad” foi lançado em 1961 e tem sido desde então um dos filmes mais influentes do cinema moderno europeu.

Bad é uma referência às termas ou águas termais, locais cujos atrativos são o descanso e fontes de águas. Algo como Águas de Lindoia ou Poços de Caldas.
Em termos de semiótica, o maior trunfo do filme é a proposta de uma nova leitura para o ideário arquitetônico do século XVIII, através do preenchimento da busca em corredores e salões vazios a parir da memória de uma sensação de sublimação.