O livro “Massacre”, escrito pelo historiador Dee Brown trata da batalha e derrota do General Custer em Litle Big Horn, Estado de Montana, em 1876, pelos nativos americanos.
Já, “Enterrem o meu coração na Curva do Rio” é o relato da última etapa da dizimação dos nativos da América do Norte. Dee Brown traz no livro os relatos e depoimentos de grandes chefes e guerreiros das tribos Sioux, Dakota, Cheyenne sobre os conflitos com os norte-americanos, os rompimentos de acordos, as batalhas, os massacres. O título do livro faz uma menção à covardia do exército norte-americano ao destruir os acampamentos das famílias nativas em Wounded Knee Creek, Dakota do Sul, episódio que ficou conhecido como Wounded Knee Massacre, em 1890.
As populações nativas norte-americanos foram desmoralizadas sistematicamente antes de uma quase total extinção. No lançamento do livro, em 1970, o jornal Washington Post chegou a questionar: “na verdade, quem eram os selvagens?”.
Além de demonstrar uma extrema crueldade e desumanidade da política implementada pelos norte-americanos, os livros de Dee Brown complementam a visão do século XX sobre a questão indígena que se opõe à visão do século XIX.
Entretanto, a visão humanista sobre a causa indígena foi muito tardia. De fato, pode ser que tenha sido inaugurada pela publicação em 1932 da biografia do Alce Negro, líder espiritual da tribo Sioux, ditada a John Neihardt.
Interessante notar que as tribos indígenas possuem um líder para os assuntos terrenos e um líder espiritual.
Alce Negro, além de representar a espiritualidade e religiosidade dos povos nativos americanos, demonstra uma impressionante visão de mundo, digna dos seres mais iluminados, em suas preces e invocações: “se fosse apenas a história da minha vida, creio que não a contaria”.
Na oferenda do cachimbo, tradicional ritual da tribo Sioux, Alce Negro recita: “para que serve a vida de um homem que pode fazer muito de seus invernos, mesmo quando castigado por uma nevasca? “, frase que se aproxima à visão da fé cristã ocidental e complementa: “muitos homens viveram e viverão esta história para se tornarem relva nas montanhas”, em tradução livre.
Os colonizadores não perceberam que em muitos aspectos os nativos eram espiritualmente mais elevados. E somente a noção de religiosidade e espiritualidade aqui inerente já demonstra o conhecimento de uma espécie de um espírito da natureza, da qual nós não damos conta.
Sob as equações insolúveis das conjunturas atuais entre sobrevivência e preservação, lembrar que pretensos processos civilizatórios foram um preço desnecessário. Independente, se a América não reavaliar a destruição dos povos nativos e de suas matas, estará apenas incorrendo nos mesmos erros seculares, diariamente.
O título original de “Enterrem o meu coração na curva do rio” corresponde a “Bury my heart at Wounded Knee”.
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José Alencar Galvão de França