Em 1932, as colinas entre Cunha e Guaratinguetá presenciaram parte da resistência dos paulistas contra a ditadura Vargas. Nas fazendas da região, até alguns anos atrás, ainda era possível encontrar granadas e trincheiras. A adesão da população legitimou o pleito paulista: a rodovia SP171 tem o nome do agricultor Paulo Virgínio, mártir da Revolução Constitucionalista.
Muitas vezes, a resistência aos invasores conta com a colaboração da população civil.
Em 1812, próximo ao Rio Moscou, o exército do Czar não conseguiu conter a invasão das tropas napoleônicas. Entretanto, com ajuda do povo russo, deflagrou uma resistência das mais bem sucedidas dos relatos históricos, ocasionando a saída dos invasores.
A saga do Império Russo em se defender dos ataques napoleônicos ficou eternizada pelo escritor Liev Tolstoi no épico Guerra e Paz.
Tolstoi deve ter tido muita preocupação em nomear sua obra prima. Escreveu um terço da obra sob o título “1.805”, ano em que começam as guerras napoleônicas. Eventualmente, deve ter considerado a data de “1.812” como outra possibilidade, quando ocorre a invasão da Rússia. Hipótese afastada por parte dos críticos, deve ter pensado por pelo menos um instante em “A Guerra e o Mundo”, já que a palavra Paz é grafada como Mundo em russo, além de que os acontecimentos envolveram quase toda a Europa. Nesta fase, já estaria maquinando o entrave da instabilidade da Guerra com a estabilidade da Paz. Foi um passo para chegar em Guerra e Paz.
A familiaridade com os acontecimentos advêm da participação de seu progenitor Nikolay Tolstoi junto ao exército russo e, naturalmente, contra as tropas napoleônicas.
De fato, o texto tem início em 1.805, em São Petersburgo, sede da Rússia Imperial, mas os episódios mais desoladores se passam em Moscou e seus arredores.
É na contradição Guerra-Paz que reside a força e solidez do livro. O romance em quatro tomos possui um período de Paz inicial e um período de Paz final, separados por longos anos de inquietação, batalhas e destruição.
Se fosse corresponder aos diálogos originais, o livro teria sido quase todo escrito em francês, com reduzidos parágrafos em russo.
Com o intuito de nos indicar a alternância francês-russo, o autor entremeia frases inteiras e início de conversas em francês. Na ausência da lembrança, os diálogos originais seriam em russo. Independente, o livro pretende ser um grande livro da literatura russa, mas acaba se tornando também um monumento histórico. Centenas de personagens são os testemunhos não somente das incertezas e temores vividos pela Europa, mas principalmente da comunhão expressa pela resistência.
A engrenagem do livro nos faz pensar em quase todas as guerras e demais conflitos. Tanto no século XIX quanto no século XX e mesmo no início do século XXI, uma espécie de insensatez de tiranos e ditadores tem levado nações a conflitos desnecessários.
Com certeza, a Ucrânia entrará para a História pela sua resistência contra as tropas russas.
Guerra e Paz é um romance histórico escrito por Liev Tolstoi e publicado em capítulos a partir de 1865.
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José Alencar Galvão de França