O gélido mundo soviético nos parece, até nossos dias, quase incompreensível e até mesmo indecifrável.
Com extensão vastíssima que alcança nove fusos horários, a Rússia ainda ressente o final da União Soviética. Entretanto, a monumental literatura russa permanece como um dos únicos passaportes a nos advertir sobre os crepúsculos ditatoriais totalitários que frequentemente amanhecem no século XXI.
Entre 1957 e 1958, Boris Pasternak publicou seu mais conhecido trabalho no mundo ocidental: o romance Doutor Jivago. De acordo com o Centro de Estudos Russos da Universidade de Coimbra, o livro não pôde ser publicado na então União Soviética, devido às críticas feitas ao Regime Comunista na obra. Os originais do livro foram contrabandeados para fora da Cortina de Ferro e editados na Itália e se transformaram rapidamente em um verdadeiro best-seller, fazendo de Pasternak ganhador do Nobel de Literatura de 1958.
Enquanto Boris Pasternak demonstra em sua obra uma errática, mas incessante busca pela felicidade – apesar da Revolução Comunista de 1917 – iluminada não somente por Lara, como também pela biblioteca e pela balalaica, Aleksandr Soljenítsyn denuncia no livro Arquipélago Gulag a desumanidade do stalinismo nos campos de concentração da antiga União Soviética.
Segundo o Portal da TAG – Experiências Literárias, a partir de 1930, funcionou na União Soviética um sistema de trabalhos forçados que se tornou um dos símbolos do governo de Stalin. Assombrosos como Treblinka e Auschwitz, os campos soviéticos aprisionaram milhões de pessoas, incluindo presos políticos ou opositores ao regime da época.
Em 1962, Soljenítsyn publicou o livro “Um dia na vida de Ivan Denisovich”, um dos vários livros que reporta aos campos de concentração. Em 1970, foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura.
Gulag, sigla para “Administração Central dos Campos” foi um sistema de opressão, recurso mais feroz do Stalinismo. Para compor os três volumes de Arquipélago Gulag, Soljenítsyn, tendo sido acusado de fazer propaganda antissoviética, utilizou a própria experiência de oito anos como detento. Mas, não só. Inspirado por “Guerra e Paz”, reuniu o depoimento de mais de 200 sobreviventes dos campos do Gulag. Soljenítsyn dedicou o livro a “todos os que não sobreviveram para contar a história”.
Entre 1965 e 1967, a KGB, organização de serviços secretos da União Soviética, chegou a confiscar escritos do autor. Para proteger “Arquipélago Gulag”, Soljenítsyn trabalhou as várias partes do seu manuscrito em momentos diferentes, fazendo a divisão em capítulos, que separados ficaram sob a proteção de vários amigos. Em 1973, ainda residente na União Soviética, conseguiu publicar a primeira edição do livro em Paris, depois multiplicada em quase todas as línguas.
Os campos soviéticos aprisionaram o próprio povo, em estimativa de quase vinte milhões de cidadãos, sendo que quase dois milhões não sobreviveram.
Stalin também é lembrado pela destruição da Ucrânia, nação que quase dizimou cruelmente com a espoliação de alimentos, no período “entre guerras”, em um dos maiores genocídios da História.
A política russa atual parece se inspirar na política stalinista e procura uma “distensão” e obscurece a política da transparência e abertura liderada por Gorbatchev, colocando não somente a Ucrânia em ameaça constante, mas todo o mundo livre.
Ressurgida das cinzas do Nazismo, a Alemanha reunificada demonstra maturidade e superação suficientes para afastar os percalços das guerras e tenta liderar a trilha do caminho da paz, afastando a volta da Guerra Fria e as ameaças nucleares.