Não existe cidade que inspire mais fascínio pelo passado.
Roma, sítios arqueológicos em grande número existentes, não consegue e não pretende conter seu olhar para a Antiguidade.
A cidade foi relativamente preservada pelo Período Medieval, quando chegou a contar apenas 50.000 moradores.
O despovoamento teve início com o fortalecimento de Constantinopla, antiga Bizâncio que passou a comandar a porção oriental do Império Romano a partir de Constantino.
Antes, o apogeu de Roma do Ocidente ocorreu com Otávio Augusto, sobrinho de Júlio César.
Augusto conseguiu aplacar as guerras civis que culminaram com a morte de Brutus, assassino de Júlio César. Para conter a rivalidade de Marco Antônio, defendeu o Mar Adriático da esquadra de Cleópatra.
Governou o Império por mais de quarenta anos, agrupados em mandatos de dez anos. O período ficou denominado PAX ROMANA em consequência do controle sobre as regiões da HISPANIA e da GALIA.
Para comemorar seus feitos, escreveu RES GESTAE, rememorando Júlio César que nos deixou dois livros: Guerra Civil e Guerra da Gália.
RES GESTAE, em tradução livre “das realizações”, narra com detalhes a proximidade com que Augusto pretendeu se ordenar aos mitos da época, desde Rômulo e Remo até Enéas.
Augusto menciona que decidiu construir um altar de sacrifícios para celebrar a paz. O monumento, uma preciosidade arquitetônica, ficou aterrado por mais de mil anos e depois disperso, foi reunido e reconstruído às margens do Rio Tibre.
Esculpido em mármore de Carrara, o ARA PACIS tem em sua área central um altar de sacrifícios de animais, com duas saídas laterais em degrau para o sangue. O monumento quase monolítico em sua aparência, não possui cobertura, facilitando a queima de oferendas.
Arquitetonicamente é suntuoso e ao mesmo tempo, simples.
Apesar de ter sido utilizado em poucas solenidades anuais, o altar nos remete à equivocada ideia primitiva de que matar um animal conseguiria aplacar a ira dos Deuses.
O sacrifício dos animais nos remete ao sacrifício que a Humanidade terá que enfrentar para sua sobrevivência: paradoxalmente, somente sobreviverá com o auto sacrifício da abstinência.
É claro que devemos nos debruçar sobre o passado com parcimônia e respeito, iguais aos que devemos nos orientar pela proteção dos animais.
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José Alencar Galvão de França
Especialista em Direito Romano pela Universidade de Roma “La Sapienza”