Considerada principal obra de Mahler, a “Canção da Terra” contrasta com outras obras do compositor alemão.
A sonoridade da Cantata tem uma pujança semelhante às óperas de Wagner, notadamente ao Ciclo do Anel dos Nibelungos.
Porém, Mahler compôs no Período Expressionista Alemão, enquanto Wagner, no final do Período Romântico.
Enquanto Mahler deixou na ”Ressurreição”, por triste que seja, uma mensagem de esperança, a “Canção da Terra” permanece entre as obras que mais implicam em reflexão.
A “Canção da Terra” foi elaborada para criar um confusão emocional: angústia, fatalidade, lamento, que às vezes parece um pleito.
Creio que uma boa alternativa para solucionar a tristeza da “Canção da Terra” seria admirar a sua dramaticidade e seu aspecto cultural inovador.
Poucos intelectuais haviam se debruçado sobre o Oriente até então. Hans Bethge, escritor alemão, traduziu o livro “A Flauta Chinesa” e Mahler incorporou alguns poemas na elaboração da Cantata.
Não só. Mahler ganhou de um amigo algumas gravações de composições chinesas, o que foi motivo inspirador para os temas musicais.
A incorporação da influência oriental foi causadora da grandiosidade da obra.
A composição, composta em escala de cinco notas, possui uma equilibrada instabilidade, em outras palavras, possui uma instabilidade moderada e constante.
A Cantata pode ser ouvida como uma espécie de parábola para o caos pensante que reina hoje na Humanidade. Uma tentativa de organização ou de reorganização, de uma vinda de um novo ordenamento ou recuperação dos antigos ordenamentos, vontade de chamar Aristóteles para nos socorrer.
Permanece, assim, “a Canção da Terra” como um brado a ecoar pelos oceanos e pelo espaço em busca de solução para os conflitos mundiais sem fim.
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José Alencar Galvão de França