Desirée Clary, rainha da Suécia e da Noruega, nasceu em Marselha, filha de um próspero comerciante de sedas. Foi a primeira namorada de Napoleão, ainda recém nomeado general, que vinha da Córsega para marchar até Paris, durante os anos iniciais da Revolução Francesa, enlevado pelo hino revolucionário.
Em Marselha, quando visitava Desirée, Napoleão costumava anunciar a sua chegada assobiando a Marselhesa, como se fosse um segredo ou um código entre os dois namorados.
A ambição de Napoleão e o amor à Marselhesa o levou até Malmaison, onde havia uma grande biblioteca deixada pelo General Beauharnais, primeiro esposo de Josephine, futura imperatriz da França.
Em Paris, de uma certa forma, os ímpetos revolucionários pareciam reunir generais e intelectuais e Napoleão se associou à aristocracia que se reorganizava face aos rumos incertos da Revolução Francesa.
Em dez anos, a partir de 1789, a França vivenciou vários regimes conturbados como Monarquia Constitucional, Convenção Nacional, Diretório e Consulado.
Napoleão fez parte do triunvirato do Consulado e assim como Júlio César, logo se sobressaiu e afastou os demais cônsules e conseguiu instalar o Primeiro Império.
Napoleão foi coroado Imperador na catedral de Notre Dame de Paris, seguindo o rito de coroação dos Luíses, com a diferença que a monarquia fazia as celebrações em Reims. E aqui encerra a Revolução. A continuidade é a transposição de uma ira desmedida que Napoleão sentia pelo mundo da época e tentava destruí-lo a seu modo.
Com o pretexto de exterminar o Absolutismo, invadiu ou tentou invadir quase todos os países da Europa, transformando o continente em um mar de sangue, trazendo insegurança e desesperança aos povos.
Em Trafalgar, próximo à Gibraltar, foi derrotado pelo Almirante Nelson, o que deixou a possibilidade de invadir a Inglaterra afastada.
Deixando de olhar a França, nutrindo a frustação sobre invadir a Inglaterra, Napoleão começou a ficar obcecado pela campanha da Rússia.
Na Rússia, após acompanhar a Batalha de Borodino nos arredores de Moscou, Napoleão conseguiu se instalar no Kremlin.
Assim como Desirée, Napoleão fazia anotações diárias sobre suas atividades. Uma das últimas anotações em Moscou é sobre o inverno iminente e o final das provisões e víveres.
Moscou cercada, Napoleão partiu, não sem antes saquear parte dos tesouros da cidade, deixando mais de mil soldados nos hospitais de Moscou, quase toda a Grande Armada dizimada e um longo rastro de sangue até a França.
Quando retornou à Paris, não conseguiu ir diretamente para Fontainebleau, onde residia sua família e foi obter algum alento no palácio de Desirée que tinha desposado o Marechal Bernadotte, futuro rei da Suécia.
Uma dama de honra de Desirée aproveitou a sua presença e entregou para ele um uniforme que havia feito para seu filho. Napoleão não conseguiu dizer que o soldado havia perdido parte das pernas e se comoveu. Muito tarde para refletir.
Assim como Napoleão, Putin se espelha no passado da URSS para dirigir a Rússia de hoje, trazendo para o seu país dor e sofrimento desnecessários.
Observância de alteração dos tempos deve ser constante entre os líderes. Apesar de terem tido senso de oportunidade no início, tanto Napoleão quanto Putin perderam o bom senso no final.
Putin tenta completar a tarefa de Napoleão e destrói a esperança de paz entre os russos e a Europa.
A Marselhesa permanece até hoje como o hino da França.
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José Alencar Galvão de França
