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domingo 22 dezembro 2024
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GPS – A Esquina do Mundo III

As principais vítimas dos ditadores são, habitualmente, os próprios povos oprimidos. Na URSS, temos um dos exemplos mais cruéis do século XX.
A palavra ucraniana Holodomor significa “morte por inanição” e se refere ao período da grande fome vivenciada entre os anos de 1932 e 1933 na então República Socialista Soviética da Ucrânia.
Segundo a DW/Deutsche Welle, as causas da tragédia estão na coletivização da agricultura, na introdução de cotas inalcançáveis de entrega da produção ao Estado e na perseguição aos camponeses, logo nos primeiros anos do regime do ditador comunista Josef Stalin.
Em 1930, a Ucrânia possuía cerca de 30 milhões de habitantes. Provavelmente, quatro milhões morreram de fome nos anos seguintes com inanição causada pelo próprio Estado Soviético.
De fato, Stalin havia implementado as cooperativas rurais denominadas Kolkozes, propriedades rurais coletivas do regime comunista soviético. Muitos agricultores resistiram à coletivização, que acabou sendo feita à força pelo regime soviético. Milhares deles foram detidos e enviados para prisões na Sibéria.
Na Ucrânia, as áreas mais atingidas pela fome foram as regiões de Kiev e Kharkiv, bem como a Moldávia, então uma república autônoma.
Depois de uma boa safra no ano de 1930, a queda da colheita no ano seguinte logo deixaria claro o que significava, na prática, a coletivização agrícola no comunismo soviético.
O regime em Moscou continuou cobrando dos agricultores uma cota fixa de produção, sem considerar se a colheita seria boa ou não, apelando até mesmo para o confisco de sementes e de cereais forrageiros.
A situação se agravou ainda mais em 1932, com uma nova colheita abaixo da média. Se os agricultores não entregassem a cota de produção para Moscou, comandos armados marchavam até eles para retirar a produção à força.
Entretanto, mesmo com toda a rigidez aplicada pelo regime para a cobrança, na ampla maioria dos Kolkozes a cota de produção não podia ser alcançada. Moscou acusava os agricultores de sabotagem e, a partir de 1932, instituiu o terror entre a população rural, com confisco de alimentos, isolamento de regiões inteiras e impedindo, de forma violenta, que a população faminta deixasse o campo rumo às cidades.
A política soviética não fez nada para impedir as mortes, pelo contrário, considerava o sofrimento imposto à população como medida disciplinatória com o intuito que os camponeses aceitassem o trabalho nas fazendas coletivas, que haviam sido criadas à força.
Os comandos armados levavam todos os produtos alimentícios que encontrassem nos vilarejos, incluindo provisões para sobrevivência, equivalente a uma ordem para matar que partia do próprio Stálin, segundo documentação oficial.
Em 30 de Novembro de 2002, o Parlamento da Alemanha reconheceu o Holodomor como genocídio. A resolução também aponta que o Holodomor constitui um “crime contra a humanidade”. “A liderança política da União Soviética sob Josef Stalin foi responsável”, diz o texto. “A atual guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia está inserida nesta tradição histórica”.
Sem expectativas de dias melhores, a Ucrânia, seu povo e sua cultura, seu território e sua paz, têm sido massacrados sucessivamente, tanto pelas ditaduras da URSS quanto da atual Rússia.
Fonte: DW/Deutsche Welle 30/11/2023
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José Alencar Galvão de França
Formado em Direito pela USP e especialista em Direito Romano pela Universidade de Roma “La Sapienza”