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sábado 23 novembro 2024
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Giramundo – Cunha: 45 anos de Cerâmica Noborigana (1975-2020)

A cidade de Cunha, fundada em meio a um grande mar de morros entre as serras do Quebra-Cangalha, do Mar e da Bocaína proporciona uma vista panorâmica de diversos pontos do município. De qualquer lugar da cidade é possível ver as montanhas cercadas pelo verde da Mata Atlântica. Com cerca de 21.547 habitantes, tem um grande número de pessoas marcadas pela pobreza e falta de atendimento adequado na área de saúde, educação e moradia adequada. Essa situação vem se agravando ano após ano por falta de uma política adequada ao desenvolvimento do município e o aparelhamento técnico da área rural, que vem perdendo os seus moradores autóctones e cedendo lugar aos sítios de veraneio. Com uma distância de 222 quilômetros de São Paulo, 40 de Guaratinguetá e quase a mesma distância de Parati e curiosamente, a “pequena” cidade ocupa um dos maiores territórios do Estado de São Paulo, 1407,25 quilômetros quadrados.
Tornou-se vila em 1785, por ordem de Francisco da Cunha Menezes, que lhe deu o nome. Foi elevada à condição de município em 1858, 90 anos depois, ganhou o status de estância climática, o que lhe proporciona certo status no recebimento de verbas para o incentivo na aplicação em projetos turísticos. As atrações ficam por conta da exuberância da natureza da Mata Atlântica, cachoeiras, corredeiras e um imenso mar de morros. Um dos pontos mais visitados é a Pedra da Macela, com 1840 metros de altitude e com uma vista panorâmica do litoral de Parati e Angra dos Reis.

A ARTE DO BARRO: UM PEDAÇO DA HISTÓRIA DE CUNHA
Remodelado pelas mãos dos artesãos, o barro ganha forma e graça transformando uma ideia em algo concreto, mas que só toma jeito de acordo com o ser de cada homem que, com a habilidade das mãos, ajeita a arte no lugar de sempre, nem que para isso tenha que buscar na água e no fogo o auxílio da transformação tão almejada pelo artista. Foi juntando a vontade e a história que, desde as paneleiras que moldavam o barro fazendo utilitários e queimando em fornos simples, fez a fama de Cunha na cerâmica chegar ao presente, com a cerâmica de alta temperatura, obtida em fornos noborigama, de origem chinesa e japonesa. Dos 18 fornos desse modelo existente no Brasil, cinco deles se encontram em Cunha.
A história desses fornos noborigama começou em 1975, com um grupo de ceramistas que se instalou no antigo matadouro com a liderança de Alberto Cidraes, que mantém seu atelier até hoje na cidade. Desse grupo inicial, temos a ceramista Mieko, Gilberto Jardineiro e Suenaga, Alberto Cidraes, que depois de se ausentar da cidade por mais de dez anos, voltou a trabalhar em Cunha. Já os ceramistas Luís Toledo, Lei Galvão e Augusto Campos, Mário Konish e Clélia Jardineira vieram depois e desenvolveram um trabalho bastante interessante e com características próprias, tornando a arte do barro um grande atrativo turístico para a cidade.
Hoje, além dessa modalidade, há na cidade outros ceramistas que trabalham a cerâmica e utilizam-se de fornos elétricos e a gás para suas queimas. Nesse período em que a cidade passou para o circuito de produção e atingiu um índice significativo no cenário nacional, o que tem sido a grande alavanca do turismo é o forno noborigama. Esse forno é construído com três ou cinco câmaras, onde fica a cerâmica para ser queimada. Como manda a tradição oriental, as câmaras são erguidas em aclive, cada uma num degrau. As peças são queimadas em duas etapas. Na primeira, com temperatura abaixo de 1000 graus C, que dura um dia, obtém-se a cerâmica “biscoito”, como é chamada pelos artesãos. Na segunda fase, a queima chega a 1300 graus C, e as peças são vitrificadas, fundindo o esmalte natural ao barro, dando cor e forma única, porque depende da oxigenação de cada câmara na hora da queima.
Quando esta fornada é aberta, o ceramista convida seus amigos e clientes para acompanhar o resultado da produção, que é feita com uma regularidade de mais ou menos dois meses entre um trabalho e outro. Esse dia de abertura resulta numa grande festa, pois cada peça ganha a sua forma em desenho e vitrificação. Os convites são feitos através de mala direta ou pela Internet, pois os principais ceramistas têm sites bastante atualizados na rede.
Nestes quarenta e cinco anos da chegada do forno noborigama em Cunha, as mudanças foram muitas e, as evoluções também trouxeram novas modalidades que têm contribuído diretamente com a arte do barro. Essas contribuições são visíveis na economia da cidade e, o seu aumento gera muitos empregos na cidade e na zona rural que, devido as crises econômicas, se afastou mito da sua vocação original ligada a pecuária leiteira.

 

Por Oswaldo Macedo