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sábado 23 novembro 2024
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Giramundo – Araucárias: Um pedaço da história de Cunha durante o Caminho do Ouro

por Oswaldo Macedo

Na cidade de Cunha, situada entre imponentes serras e cercada por uma paisagem que mescla a grandiosidade da natureza e a história entrelaçada dos tropeiros, uma presença marcante se destaca: as araucárias. Essas árvores ancestrais, que não são nativas das terras da serra do Mar, mas sim da majestosa serra da Mantiqueira, contam uma história que se entrelaça com a própria trajetória do município.

Imagine-se caminhando pelas ruas tranquilas de Cunha, onde cada esquina guarda um pedaço da história de um tempo em que os tropeiros desbravavam essas terras. O Caminho do Ouro, uma rota que ecoa aventura e riqueza, tem em Cunha seu ponto de parada obrigatório. Para os viajantes que saíam das minas gerais em direção ao porto de Paraty, era o último refúgio antes de enfrentar as árduas trilhas da serra do Mar. E para aqueles que rumavam para as minas, era o primeiro alento depois de enfrentar os desafios das montanhas.

Nesses tempos de antigamente, os tropeiros encontravam abrigo nos bairros da Aparição e Campo Alegre, onde se erguiam os rancheiros que acolhiam os viajantes exaustos. E é aqui que a presença das araucárias se faz notar, como guardiãs silenciosas dessas histórias. Ao redor desse rancho, as primeiras mudas de araucárias podem ter brotado, trazendo consigo um pedaço da serra da Mantiqueira para as terras da serra do Mar.

Com o passar dos anos, essas árvores se espalharam pelos bairros de Cunha, como Rio Abaixo, Paraibuna, Sertão da Santa Bárbara, Buracão, Taboão, Guandu, Sertão do Rio Manso, Ingá, Rio do Meio, Cachoeirinha, Pinhal, e tantos outros, criando uma sinfonia verde que se estende por toda a região. Nos bairros do Ingá, Rio do Meio e Sertão Rio Manso, especialmente, as araucárias se tornaram parte integrante da paisagem, plantadas nas divisas entre as propriedades, testemunhas silenciosas das delimitações territoriais ao longo dos séculos.

E que dizer do pinhão, essa iguaria tão apreciada pelos tropeiros em suas jornadas? Sua presença nas terras da serra do Mar pode ser um legado das viagens pela serra da Mantiqueira, onde as araucárias são abundantes. Nos rancho onde os tropeiros pousavam, preparavam sua alimentação e compartilhavam histórias ao redor do fogo, o pinhão certamente era parte integrante desses momentos de confraternização e descanso.

Hoje, ao caminhar pelo município de Cunha e contemplar a imponência das araucárias que pontuam a paisagem, é como se pudéssemos ouvir os ecos do passado, sentir o cheiro da terra molhada e ouvir o tilintar dos arreios dos muares trafegavam pela região. As araucárias não são apenas árvores, são guardiãs de memórias, símbolos de resistência e beleza, que continuam a contar a história de um tempo em que os caminhos eram trilhados com bravura e determinação, e as montanhas guardavam segredos que só os viajantes mais corajosos ousavam desvendar.