O sofrimento tem grande importância na vida humana, não como postura masoquista, porém como lugar de reflexão sobre a vida.
É uma experiência universal. A todo o ser humano é garantido sofrimento na sua vida por vezes profundo, talvez totalmente injusto e imerecido, em alguns casos que facilmente se resolve, noutros absolutamente irremediável. Em todo o caso, faz parte da condição humana.
O sofrimento é o lugar onde só podemos ser quem somos. Ao contrário de posar para selfies em festas ou amanheceres deslumbrantes – que engrossam a falsidade nas redes sociais -, o sofrimento encontra-nos nus e vulneráveis diante de uma fratura no corpo, na alma , na mente.
O sofrimento humano liga-nos a um ponto central da fé cristã: Jesus Cristo, Deus feito homem, sofreu uma morte cruel e injusta na cruz. Deus nunca é indiferente ao sofrimento humano. Ele nos criou e sempre acompanha nossos passos.
Perante as cisões que dilaceram as sociedades e em tantas outras divisões, emerge a necessidade – nem por todos sentida e defendida, é verdade – de reconciliação entre pessoas com posições radicalmente diferentes.
As dores podem ser de muitas maneiras. Podem ser interiores, do sentido da vida ( basta ver a quantia de suicídios de jovens), por traumas, por situações econômicas num mundo que a marca é dada pelo consumo ou por tantos outros pontos. O principal ponto situa-se na compreensão do sentido da vida. O excesso de positividade, as exigências de poder render sempre, produzem uma carga de sofrimento e estresse. Temos os sofrimentos frutos de uma doença, que não pede licença e chega. Ele desinstala.
Qual o centro da vida? Amar e sair de si para servir. Amar sempre e em todas as situações. Pois o amor se concretiza ao voltar-se para fora de si mesmo, para os outros, sobretudo a quem mais sofre. Faz=se necessário a educação humana para este estilo de vida. Antropologicamente não somos perfeitos, temos falhas e dificuldades.
Imagino que as pessoas que estão nos antípodas das minhas perspectivas de vida – de todas, ou de algumas em particular -, como toda a humanidade, experimentaram sofrimentos profundos em sua vida.
Nessas situações de sofrimento, as contraposições não se dissolvem necessariamente, mas dão um passo atrás e abrem espaço para nossa vulnerabilidade partilhada.
O reconhecimento que o sofrimento humano e momentos de vulnerabilidade partilhada podem abrir a nossa humanidade para o breve, mais ainda assim necessário, encontro que nos diz que o outro também é humano e digno de ser amado.
Sentir compaixão não resolve as dores do outro, mas está do lado e caminha junto. Assim manifesta seu amor. Estendera mão, a proximidade, o ouvir, a presença e o comprometimento. É o contrário da indiferença. A caridade, vivida a partir da fé, é o centro da nossa vida.
O sofrimento é uma categoria que está repleta de iniqüidades, muitas vezes ligadas às suas causas. Nem todo o sofrimento é igual mas todo o sofrimento é humano e muito real.
Minha própria humanidade está ligada à maneira como respondo ao sofrimento dos outros.
Prof. José Pereira da Silva