Celebramos o Natal do Senhor. Recordamos todo o realismo da encarnação terrestre do Verbo. O Filho de Deus não se disfarça em homem, mas, permanecendo Deus, é também real e concretamente homem; e se manifesta na realidade humana.
Natal é momento de silêncio e contemplação diante de Deus que se encarna na nossa história humana. Não é tempo de agitação, barulho e atordoamento.
É Natal, uma luz brilhou para nós. Nesta noite a esperança é renovada. É possível um mundo de paz, justiça, amor e fraternidade.
Com a encarnação, Jesus uniu todas as pessoas. Deus se fez solidário com todos. Emerge a vida, alegria e encontro. Todo o cosmo é atingido pelo mistério da encarnação.
O Verbo entrou na história, recriando todas as coisas. O sol nascente veio nos visitar e guiar nossos passos no caminho da paz.
Dizia o Papa Leão, no século V: “Não pode haver tristeza quando nasce a vida”. Ouçamos a palavra do anjo: “Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lc 2,10-11).
Viver a espiritualidade do natal significa reconciliar-se totalmente com nossa realidade humana, pessoal e social.
Reconhecer Jesus “deitado nas palhas da manjedoura” (Lc 2,7) nos chama a reencontrar o nosso jeito de ser, nossas fragilidades e problemas, unindo a ele o mais profundo da nossa condição humana.
No Natal fazemos a experiência de sermos amados por Deus, que quis morar no meio de nós para nos salvar.
Jesus, plenitude do amor e da revelação de Deus, é portador da novidade absoluta: “De sua plenitude todos nós recebemos graça sobre graça” . Trata-se do amor que dá a vida, como ele a deu (Jo 31,1; 15,13). Corresponder ao seu amor é fazer o que ele fez, ou seja, amar sem limites.
Em família reservemos tempo para olhar o ano que passou, para dar graças pelo crescimento individual, familiar e coletivo: os perdões, as reconciliações acolhidas, os medos ultrapassados, as alegrias familiares, doa amigos… e todos os projetos por concretizar. Cristo vem sem cessar para o meio de nós.
Contemplando Jesus, saberemos qual é a qualidade das nossas relações que, em última instância, se decide o peso da nossa existência. É diante de alguém que tem fome e sede, que está na prisão ou no hospital, que precisa de roupa ou de acolhimento que a vida de qualquer ser humano se decide (Mt 25).
Que a luz trazida por Jesus dissipe as trevas do erro, do ódio e do egoísmo que pesam sobre os corações humanos e os convença a aplicarem-se em prol de um mundo onde os valores da justiça e do amor – cada vez mais compartilhados e traduzidos em obras – preparem o caminho para aquela paz que os anjos anunciaram no céu de Belém, para a esperança e alegria de todos.
Num mundo marcado pela divisão, ódio e guerras, Cristo nos convida a ter um olhar contemplativo que nos leve a descobrir sua presença multiforme nos outros, para construir uma fraternidade universal em que a paz se alicerce na justiça , no perdão e no amor para com todos.
Prof. José Pereira da Silva