Existe uma capela Scrovegni localizada em Pádua, Itália, de incrível beleza, com a presença dos afrescos de Giotto (1267-1337).
Entre os afrescos, em baixo, sobre duas paredes laterais, de frente umas para as outras, catorze figuras alegóricas que representam os vícios e as virtudes: à esquerda os primeiros: ira, desesperação, inconstância, ciúme, infidelidade, injustiça, estultícia: à direita as segundas: prudência, justiça, fortaleza, temperança, fé, esperança, caridade.
Com esta contraposição entre virtudes e vícios, surge a seguinte pergunta: porque vale a pena refletir sobre as virtudes e os vícios? Refletir sobre virtudes e vícios é fundamental para na vida saber em que direção devemos ir, qual caminho devemos seguir e nos orientar.
Ambos existem, ambos entram na nossa maneira de agir, de pensar, de sentir. A virtude é como a vitamina, faz-nos crescer e seguir adiante. O vício é essencialmente parasitário, os vícios são parasitas. Matam a vitalidade que está em nossa essência humana, dificultam o crescimento da pessoa.
Se as virtudes são alimento para cada um de nós, alimento essencial para crescer e tornar-se adulto, os vícios opõem-se a isto, corroem-nos por dentro, devoram-nos, os ossos e a alma. Basta percorrer os dois elencos acima referidos ( relação de virtudes e vícios) para o compreender: as virtudes enriquecem, os vícios não são mais do que perdas de tempo, e tornam-nos mais pobres, secam-nos.
Infelizmente hoje , existe uma pseudocultura que impele cada vez mais para os extremos considera as virtudes como supérfluas ou até insignificantes, e exalta os vícios, acaba-se por abrir um espaço infinito à superficialidade, hedonismo, relativismo e a viver em conseqüência dessas atitudes.
A tomada de decisões morais continua sendo parte fundamental da vida humana cotidiana. Na realidade, nossas respostas determinam quem somos e quem estamos nos tornando – como indivíduos e como comunidade humana.
Ao nos confrontarmos com certos dilemas e problemas, estamos fazendo uma afirmação a respeito de nós mesmos, afirmando ou negando nossa própria humanidade.
Existe uma vastidão de vícios espalhados na sociedade, e um dos possíveis remédios é propor uma radical mudança de vida, fundada na humildade, na austeridade, no afastamento das coisas efêmeras e na adesão às eternas.
O ser humano deve-se orientar para o bem não só pessoal como também do próximo. O homem pode orientar-se para o bem somente na liberdade que Deus lhe deu. Cada ser humano cresce no seu ser pessoa, mediante escolhas conformes ao verdadeiro bem, desse modo, o homem e a mulher gera-se a si próprio. Dizia Santo Agostinho (354-430): “Bom não é quem conhece o bem, mas quem o ama” (De Civitate Dei, XI, 28). Conhecer racionalmente o bem não basta, pois é necessário aderir a ele de coração e mente. Viver e colocar em prática.
Somente o amor aos verdadeiros bens pode arrojar o homem às realizações nesta vida. As provações da vida são importantes, pois em tais ocasiões, o homem e a mulher se confrontam consigo mesmos e tem a chance de se renovar espiritualmente.
Escreve Santo Agostinho: “Na maioria das vezes, o homem se desconhece. Vítima do descuido e do improviso (…) somente quando a tentação o prova com um questionamento de urgência, ele consegue conhecer a verdade sobre si mesmo” (Enarrationes in Psalmis, C 4).
Ao descobrir-se amado por Deus, o homem compreende a própria dignidade transcendente, aprende a não se contentar de si e a encontrar o outro, em uma rede de relações cada vez mais autenticamente humanas.
Somente o amor é capaz de transformar de modo radical as relações que os seres humanos tem entre si. Precisamos de pessoas que cultivem relações fraternas. A transformação interior da pessoa humana é o pressuposto essencial de uma real renovação das relações com as outras pessoas.
Somente o reconhecimento da dignidade humana pode tornar possível o crescimento comum e pessoal de todos. A pessoa não pode encontrar plena realização somente em si mesma, prescindindo do seu ser com e pelos outros.
Existe algo que deve estar sempre presente sempre de que a misericórdia divina está sempre disponível. Ninguém deve esquecer que se é uma pessoa, és um homem, és uma mulher. É mais importante ser homem ou mulher do que não ter estes vícios e virtudes. Deus não ama a adjetivação da pessoa, ama a pessoa, como ela é. Pecadora, não pecadora, mas como é. Porque sua misericórdia abraça todos.
O homem e a mulher são chamados a fazerem o bem e evitar o mal. As atitudes devem ser do coração, pondo na própria vida moral a justiça, o amor e a fé.
Vivemos numa grande encruzilhada, podendo escolher o bem ou o mal, a vida ou a morte, a felicidade ou a desgraça. A escolha é de livre arbítrio, mas Deus aponta para um caminho: “Escolhe, pois, a vida…” (Dt 30,19). Escolher aquilo que alimenta e promove a vida, dignificando-a.
Prof. José Pereira da Silva